sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
"Feliz ano velho"
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Conto de fadas moderno
Não era uma vez num reino urbano distante, chamado de Twittópolis, num tempo futuro, mas não tão distante deste, quando o protagonista desta história (jovem e moderno o suficiente para, em sua longa viagem de descoberta moderna, romper com tradições) tinha como principal desejo a liberdade.
Em um dia bem feio, daqueles em que as fumaças de carros e usinas cobrem o céu, príncipe Claudius acordou mais cedo, tinha planos com a princesa Ofélia para este dia.
Ele estava agora com seus 21 anos e já se preocupava em esconder suas olheiras, em arrancar um ou outro fio de cabelo branco que aparecia. Nada fora do normal. Achava que assim como todos, deveria, antes de tudo, parecer jovem. Tomou seu banho, calçou seu all star azul, não penteou o cabelo e desceu os longos lances de degraus do castelo.
Passou com cara fechada na sala do trono, na qual se encontravam seus pais. Mantinham uma bela distância um do outro e nem tempo tiveram de perguntar ao filho se precisava de algo. Suspiraram. A mãe enxugava os olhos e dizia “Esse nosso filho está tão crescido...”.
Já havia conseguido liberdade para sair do castelo e só voltar depois das três. Era de hora de ajudar Ofélia a conseguir tal feito. Entrou na sua carruagem porsche, de 340 cavalos, colocou músicas dos anos 60, diferindo-se de todos.
No caminho, ia se lembrando das coisas que havia conseguido. Dentre elas, a que mais gostava era a independência. Amava não ter de dar satisfações para os pais, não depender deles para fazer suas rebeldes ações. Sentia-se livre. Livre para beber, fumar, transar. Livre para ser jovem. Pensou em como amava ser jovem.
Mas tal pensamento foi interrompido quando se encontrava na porta do palácio do rei Tradição, pai de Ofélia. Aproximou-se da torre em que a princesa se encontrava e jogou uma ligação em sua janela, que dizia “Acalme o dragão que eu arranjei uma festa bacana pra gente ir”.
Os pais de Ofélia não gostavam muito deste mundo moderno. Achavam-no perigoso e por isso prendiam a filha, por medo do que aconteceria a ela. Mas a filha era esperta, levava consigo sempre uma roupa reserva, maquiagem, pente e um batom vermelho. Parou em frente aos pais, com um longo vestido branco, sem maquiagem e cabelo desarrumado. Logo disse que teria de estudar até mais tarde na casa da princesa Acobertadora. Seus pais não puderam recusar tal pedido.
Ela conseguiu sair do castelo, entrou na carruagem, deu um longo beijo na boca de Claudius e disse: “Vamos agitar, baby.”
A festa era realmente tremenda. Não pararam um só minuto. Festejaram demais, beberam demais, fumaram demais, como se tivessem medo de que tudo aquilo fosse escapar até a hora de ir embora, que para ela, seria às quatro. Mas já haviam conseguido tudo o que queriam para aquela noite. Não se importavam de ter de voltar para seus castelos.
Claudius, então, deixou Ofélia em casa, com um beijo triste de despedida e dizendo, enquanto ela se dirigia às portas levadiças, “Amanhã lutamos de novo”.
Dormiria sem saber pelo quê.
Quem sabe, ao acordar, desejasse lutar contra o emprego dos pronomes, ou contra o consumismo. Afinal, já eram quatro e meia da manhã, ele deveria dormir para conseguir pensar em sua "causa".
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
O mito do elevador
19h58.
A reunião condominial estava para começar. A síndica marcara às pressas, pediu o comparecimento de todos.
Os seis retardatários, neste momento, estão no elevador, mais precisamente no décimo primeiro andar, quando o último morador, o rabugento do 1103, acabara de entrar. A porta se fechou, estavam confinados.
O prédio é antigo, descer de escada não é uma boa opção, os degraus são todos muitos juntos e além da tonteira que causam, facilitam acidentes, sem contar o comodismo. Todos os que faltavam realmente estavam no elevador.
19h59.
Foi só ele começar a acelerar que aquela marola estonteante invadiu a todos. Não uma qualquer, e sim uma capaz de deteriorar os alvéolos de um rinocerante, de derrubar um elefante.
Peidaram no elevador.
"Foi a gordinha do 1203", pensaram todos, exceto a própria injustiçada, acostumada a ser injuriada de todas as formas, mas ainda não acostumada com a dor de receber esses olhares oscilantes, cheios de ódio, nojo e de desprezo, que carregam o pensamento do marido do 1701: "gordo só faz gordice". Coitada da gordinha.
Ainda não se passaram nem dez segundos desde a baforada monstruosa e a perua do 1604 já começou a sentir náuseas, deu ânsia de vômito e apertou o botão que indicava o oitavo andar, teria que sair mais rapidamente dali, não pensou que seria mais fácil apertar o décimo andar.
O dono do gigantesco feitio, nessa hora, ria absurdamente por dentro, gostava de ver o circo pegar fogo e adorava saber que fora o responsável por essas labaredas. Para tanto, disfarçou muito bem, incitou a discórdia, dizendo que aquilo era inadimissível, que os outros deviam ter o mínimo de respeito ou vergonha na cara.
O elevador parou no oitavo andar, saíram a perua, a gordinha e o casal do 1701. Parte do cheiro saiu com o abrir da porta, a outra ficou impregnada no ambiente, de uma forma tão densa que ardia os olhos do rabugento do 1103. Foi o único que não havia reclamado, por incrível que pareça, apenas teve um brilhante pensamento.
O "putrefação" humana, puto da vida pela indiferença do rabugento, disse que aquilo era inadmissível, apertou o quarto andar já que o elevador estava indo do sexto para o quinto e, na saída, deu uma baforada no velho, que até passou despercebida, já que a porta se fechara antes.
Resultado, o velho chegou às 20h01 na reunião. A gordinha utilizou suas injúrias como motivação para ir de escadas, para emagrecer; a perua, que estava de salto muito alto, caiu ali por volta do quinto andar e decidiu nao ir mais; o casal voltou para o apartamento, para esquecer aquele cheiro horrível num delicioso banho a dois.
O velho se sentou na frente e acompanhou a reunião. Minutos mais tardes chegou o peidorreiro, viu toda aquele gente e sorriu para si mesmo, "Como será que eles reagirão diante de uma bela merda?". Ele não sabia quanto aos demais, sabia apenas que o velho estava imune à sua sacanagem.
A vida também é assim, às vezes nos deparamos diante de problemas sem solução, que têm a única função de nos deixar fedendo, podres e pra baixo. Assim, alguns desistem e voltam ao início do caminho. Outros ficam estancados no mesmo lugar, sem reação, e ficam fedendo para sempre. Poucos tiram disso alguma lição. Menos ainda ficam indiferentes a isso. Estes sim são capazes de aguentar o tranco da vida, por mais que alguns cretinos gostem de foder com a vida de todos, eles sabem exatamente disso e pensam assim como o velho:
"Vai passar, sempre passa. É só esperar."
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Suicídio
Esperou aquilo por muito tempo.
Não o deixavam sozinho em hipótese alguma. Sua face denunciava algo. Sabia disso. Sabia também que todos viam isto, mas teimava em esconder dos outros suas dores internas. Eram suas. Sabia de suas limitações. Sabia que lhe privavam a vida, corroíam-lhe o pulmão e destruíam cada feixe muscular do coração.
Acostumara-se com as máximas dores da vida. Precisava delas para viver. Agora não queria mais sentir dor.
Morrer de tristeza? Não. A morte é o fim do sofrimento, é a chave para a alegria. Não o queria fazer perto dos outros. O sofrimento era seu. Queria sua morte apenas para si. Sentiu-se egoísta. Devia mesmo ser. Queria que seu último momento fosse apenas seu.
Lembrou-se de Deus como um sacana, que põe as pessoas no meio da miséria e as controla com o uso do Pão e Circo. A maioria dessas pessoas temem um inferno e se limitam a aceitar o que lhes é imposto, sem pensarem.
Mas o pior está aqui, na terra, no ar, na Terra. Dentro da sua cabeça. Este é o inferno. E quando você percebe isso, descobre que você não vale nada, é mais barato que um abutre podre. Mais insignificante que uma pilha velha.
Viver com essa ideia na cabeça mostra a sua fraqueza, suas incertezas, suas dúvidas, nas quais ninguém nunca pensa. Encontram alguém para aliviarem o sofrimento, para esquecerem que a vida é difícil, inconscientemente.
E quando não se encontra alguém? Ou pior, quando se perde alguém?
Você perde sua única fuga da realidade e fica aprisionado no seu próprio mundo podre. Aquele mundo em que ninguém consegue ficar. Aquele mesmo mundo que sempre dizem ser o mundo dos loucos.
Louco é viver uma mentira.
E ao pensar nisso, escondia seus sentimentos de tudo e de todos. Fingia um sorriso, uma cara alegre, por mais que isso lhe custasse o fígado, mas sabia que apesar da dor, ele se regeneraria. Uma pena ser assim apenas com o fígado.
Agora estava sozinho, então escreveu:
“Me desculpem por causar tanta dor a vocês, mas minha vontade de viver é muito maior do que tudo isso. Preciso me libertar das garras que me prendem, viver consciente, sem dores, por mais que isso se signifique o vácuo. Não há dor no vácuo. Obrigado por cada um de vocês, que sorriram para mim nos momentos de desgraça. E lembrem-se, aqui viveu um homem que sabia de suas limitações e cuja única ambição era viver.”
Sentou-se na cadeira. Sozinho. A solidão lhe trazia o conforto. Não queria que alguém presenciasse aquilo.
Tirou da gaveta a arma e abriu a boca. O cano gelado causava arrepios até na alma. O suor se misturava com a lágrima, roubando-lhe todo o calor do corpo. Riu por dentro. Esse calor significava ainda alguma vida.
E ali olhou para aquele pedaço de metal e viveu como nunca vivera antes.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Bem kafkiano
Até pensava que eu era grande também. Na minha roda mal tinha crianças e eu era obrigado a ficar com os mais velhos, ou no truco, ou nas músicas que ouviam e até nas risadas daquilo que eu só entenderia mais tarde.
Se cresci cedo, um dos principais motivos foi este. Mas crescendo, vendo o mundo podre desde pequeno, eu era bem criança com meu Max Steel e sua garra, lutando contra o Apocalipse, o vilão dos X-Men, numa vila onde todos os bonecos se encontravam e todos os vilões se uniam. Uma vila só minha.
Foi numa noite de 19 de outubro que meu crescimento se consolidou. A notícia de que o homem que deveria cuidar da minha pequena irmã, a partir daquele momento, seria eu, rompeu qualquer base. Me senti um próprio Max Steel.
Cresci cedo. Vi as injustiças do mundo desde pequeno, vi que quem é bonzinho demais só se fode e que no final das contas, o amor que você deu não é igual àquele que você recebeu. Vi que heróis também sangram e que até mesmos os fortes sentem medo. Eu me achava forte, hoje eu tenho muitos medos.
Não sei se personalidade é algo genético, não posso provar. Sei que não sei como montei a minha. Não me espelhei em ninguém. Procurei sempre fazer o certo, mesmo que isso me custasse sangue. De quem ou do que vem isso, não sei.
A concepção do que é a vida foi formada há pouco tempo, embora eu sempre soubesse do que se tratava. Um jogo, no qual você está sempre na última fase, lutando contra um poderoso chefão que tenta te foder a cada instante e tudo o que você consegue fazer é apertar dois pra cima e X para desviar de seus ataques. Não dá pra ganhar, é um jogo no modo survival em que você ganha por sobreviver mais tempo. Injusto. Muito. Você só tem uma vida.
Pensamento de velho, ideologia bem jovem. Ideologia pura, bem revolucionária, que não aceita o injusto, que não aceita a submissão diante desse chefão filho da puta que controla e guia todos os seus movimentos. Não sei, novamente, de onde vem esse impulso de querer lutar, de querer mudar a situação, mas sei muito bem de onde vem a dor da frustração por não conseguir. Do peito, ardendo em chamas.
Reclamão eu me tornei mais tarde, embora odeie o fato de ser chamado assim. Acabo achando que não sou compreendido, que é normal aceitar as coisas como elas são, de que lutar contra o injusto é errado e que devo apenas me silenciar enquanto apanho. Não! Não pode ser assim! Isso sim é errado! É entregar o jogo.
Tenho um leve hábito de escolher os caminhos mais difíceis, os caminhos em que mais se perde sangue. Vivo no limite. Me estouro, me arrebento, falo mesmo, reclamo mesmo, porque não vou aceitar o errado só porque é mais cômodo. Ao contrário!
Acabei me tornando assim, então, capaz da autodestruição. Capaz de me olhar no espelho e negar tudo que sou, capaz de dizer que faço tudo errado, que nunca consigo escolher os melhores caminhos, que não consigo ser bom para ninguém, que só sirvo para lamentar e reclamar. Capaz de pegar as dores de todo mundo para que ninguém sofra, sofrer por eles. Capaz de ouvir bastante que estou errado, que eu não devo ser assim. Capaz de me indignar até com isso! Me indignar com o fato até de que um altruísmo gere repulsão na parte das pessoas.
Se diz que só pensa em você, que não liga pros outros, é um egoísta safado. Se pensa nos outros e prefere que os outros se saiam melhor que você, de qualquer história, te chamam de um altruísta bobo!
Pois é.
Gosto de ser bobo. Gosto de acreditar nas pessoas. Gosto de alimentar sonhos de que no futuro tudo será melhor, que o chefão estará enfraquecido. Gosto mais ainda de pensar nas coisas que eu quero fazer quando puder. Muitas coisas, muitos pensamentos. Nenhum de velho.
Prefiro ser bobo assim, ter várias cicatrizes a entregar os pontos. É claro que tem suas desvantagens, quando você sangra ninguém acha que você tem esse direito, ou no mínimo dizem "Eu te avisei!", como se doesse menos. Não dói menos, dói demais, dói pra caralho. Mas é normal, não sou de borracha como meu Max Steel. Sofro, tenho recaídas, boto tudo pra fora, quando todos me chamam de reclamão. Mas não perco a oportunidade de fazer piadas com minhas dores, de rir da minha situação, de rir da injustiça da vida e de como muita gente é boba!
Muita gente é boba mesmo! Muita gente sangra rindo, mesmo que chore quando está sozinha. Mas e daí? Risada como a de um bobo é a melhor que existe.
Quanto a mim, fico aqui, rindo pra não chorar, sendo bem bobo ou bem idiota mesmo, pensando que posso vencer essa tal de vida, mesmo que não pareça pra ninguém, mesmo que digam que só sei reclamar, mesmo que ninguém, às vezes nem eu, veja o quanto luto.
Num mundo que não é só meu, ouve a minha risada quem quer.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
E eu nem sei se te amo
É uma humilhação tentar escrever qualquer coisa pra você, simplesmente porque por maior que seja a minha inspiração, ela não vai traduzir um infinito avos daquilo que eu quero te dizer, daquilo que está escrito nos meus olhos ou principalmente daquilo que eu sinto. Bobagem tentar, sempre estarei te desmerecendo. Só não paro por aqui porque você não me perdoaria.
Te amar é uma coisa tão boa que à vista dos outros parece fácil. Não é. É difícil pra caralho. É tudo muito novo, porque só você me faz sentir tudo isso, então não tenho experiência nenhuma que me ajude a facilitar essa tarefa. Você também dificulta tudo. Com sua mão na minha nuca, seu lábio doce no meu, seus olhos me fitando de cima a baixo, você desperta em mim, a cada dia, um sentimento novo e sem que eu perceba eu o adoro e já estamos em mais coisas novas.
Sempre pensei em como seria quando chegasse o dia em que eu me entregaria completamente a alguém. Na verdade, sonhei com esse dia achando que não fosse chegar. Agora, rio ao lembrar disso porque simplesmente não consigo me ver sem estar entregue a você. Com esse seu jeitinho nada calmo, super temperamental, gênio forte, carinhoso e às vezes de menininha, sou todo seu.
Um amor que começou da amizade ou uma amizade que começou do amor? Acho que a gente nunca vai saber. E enquanto isso a gente se monta e se desmonta sem ver, servindo de base um pro outro, como melhores amigos, e servindo de ápice um ao outro, como eternos amantes.
E é algo tão imenso, tão imensurável, que pensei que jamais alguém mereceria tanto. Por isso vivo pensando em quando acordarei desse lindo sonho, no qual o troll da montanha fez a linda princesa se apaixonar por ele.
O troll e a princesa. Tão iguais nas suas igualdades e tão diferentes nas suas diferenças. Um completa o outro. Um se transforma no outro. Tanto que não sei dizer quem sou sem falar de você, que já deixou de estar ao meu lado há tempos. Agora está dentro de mim.
E nas nossas imperfeições, nos aturamos. Apontamos um ao outro os defeitos que sabemos ter e que se resumem a nada diante de um beijo. Nos anulamos certas vezes ao perceber que mesmo diante desse sentimento somos capazes de brigar, de discutir e até de ficar mal, mas percebemos que é tudo vontade de amar mais, de aumentar esse desejo impetuoso que pulsa a cada segundo em nossas veias, de transcender tudo aquilo que possa ser sentido, de não acordar desse sonho que passamos a viver, juntos.
Um sonho. É o mínimo que posso dizer da minha realidade.
Mas na verdade eu nem sei se te amo, porque o que eu sinto não pode ser limitado a um verbo, o que eu sinto é algo que ninguém nunca sentiu. É uma vontade de te ver, de te apertar, de te ter nos meus braços que vai além de qualquer explicação. É o desejo de te escolher perante qualquer outra coisa, é o fato de ganhar um maravilhoso tempo quando perdemos tempo, mesmo sem falar nada, sem se olhar, apenas ali, de mãos dadas.
E é tão natural que parece que nascemos pra isso, que nasci pra ser feliz como eu sou hoje, para tentar fazer você sentir um pouco da alegria que tenho ao seu lado. Apenas esse pouquinho já te faria a mulher mais feliz do mundo.
E a nossa vida vai por aí mesmo, aumentando esse sentimento que não existia antes de nós, sempre com a certeza de que ele é maior até do que aquilo que não pode ser escrito. E eu fico aqui, com a certeza de que você é perfeita para mim. Quanto ao mundo, ainda te falta não ter mais tpm...
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Cometa..?
As minhas pessoas
Nunca tinha pensado em comparar personalidades a astros (não, não vou comparar ninguém a famosos hollywoodianos). Fiz isso há dois dias, com tempo suficiente para pensar ou decidir a minha própria opinião a cerca do assunto, que, para variar, foi diferente da sua, S..
Nunca tive a chance de ver um cometa. O que não foi ruim. Acredito que o cometa que tenho em minha cabeça deve permanecer intocado e isolado. Imaginado. Qualquer imagem real acabaria com o "cometa sonho". Nunca fiquei procurando por um. Mas sempre parei para admirar o céu.
Ah... o céu! Não risonho, mas quase sempre límpido. Prendeu-me várias vezes e ainda me ajudou a conquistar algumas meninas. Prova incontestável da insignificância humana, essa imensidão, que se confunde com meus pensamentos, hipnotiza qualquer um. Já contei estrelas, dei forma a nuvens, quase sempre namorei a lua. O engraçado é que nunca dei tanta moral para o dia. Às vezes acho que a claridade ofusca os olhos, fazendo com que nós não percebamos aquilo que está ao nosso redor.
Depois dessa transgressão, voltemos ao meu objetivo inicial. Para mim, existem quatro tipos de pessoas: a sol (estrela especial), a estrela propriamente dita, a satélite e a cometa. O significado que atribuirei à estrela e à cometa diferem daquilo que pensa o S., deixemo-nas, então, por último.
Duas dessas personalidades vivem conjugadas. Não é preciso pensar muito para dizer quais são, a sol e a satélite. Aquela, representa o tipo de pessoa que se julga importante demais. Não tiro seu mérito, afinal, é capaz de dar vida a alguns cometas e dar brilho a satélites. São independentes, dão brilho a qualquer um, até mesmo aos desconhecidos, não pedem nada em troca e, acostumadas com os prazeres da vida, vivem em solidão. Esta, é o oposto. Vaga sozinha, no escuro, sempre solitária, até que consegue refletir um brilho que não é seu, para depois voltar ao breu de origem. Típica pessoa de picos. Acredito que seja a segunda forma mais triste de se viver. Só perdem para a sol, já que, diferentemente desta, aproveitam cada segundo do brilho que recebem, pois conhecem a solidão como ninguém, e por temer esta, qualquer brilho temporário faz com que, no final, tudo valha a pena.
Temos também as estrelas. Lindas, reluzentes, capazes de alegrar a vida de muitos. Tão distantes uma das outras, mas tão intensas! Vivem sempre fixas, com a única tarefa de brilhar. É terminantemente proibido que se apaguem para descansar, devem brilhar intensamente até que uma de suas cinco mortes as atinjam. Quando mortas, insistem em dar alegria para muitas pessoas, pois não percebem que estão mortas, que foram sugadas por um imenso buraco negro. Porém, é uma alegria falsa e cruel, que vem de brilhos emitidos no passado, frutos de uma obrigação, incapazes de mudar, pois estão mortos há muito. Brilhos passados, que não sustentam o presente, incapazes de se renovarem, que lentamente vão se apagando até que precisem ser substituídos por um outro brilho morto de outra estrela morta. Triste vida da estrela e de seus companheiros.
Por isso tento ser um cometa. Nascidos de uma explosão, com um ímpeto inflamante e brilho menor, porém próprio, os cometas vagam pelo espaço. Diferentemente das estrelas, buscam sempre o novo. Não conseguem viver apenas do passado, pois muito deste é dolorido, então vivem o presente. Não buscam viver isolados. Sempre em movimento, são capazes de esbarrar em outros corpos, dando um pedaço de si e recebendo pedaços de outros, sofrendo desgastes e ficando cheios de cicatrizes. São capazes até mesmo de carregarem satélites e outros cometas consigo por longos tempos. Os cometas também morrem. Suas cicatrizes os lapidam pouco a pouco, até que não tenham mais a velocidade de antes, o mesmo brilho de outrora, mas mesmo fracos ainda conseguem ser carregados, deixando o resto de si a alguém.
Os cometas, então, nascem e vivem o calor de sua longa, porém não eterna, juventude. Queimam constantemente durante esta e são capazes de provocar gigantescos impactos na vida de outros, e apesar de não queimarem para sempre, alegram-se em receber o calor dos outros, caso precisem ou não.
Para mim, os cometas são como a felicidade.
domingo, 26 de setembro de 2010
"Da arte de emanar palavrão"
É preciso classe, conteúdo e, em alguns casos, até cursos. Não é algo para ser usado por qualquer filho da puta. Emanar palavrões ao vento, sem saber usá-los, é coisa de gente escrota, que não tem mais o que fazer.
E antes que você se sinta ofendido com essa porra toda, achando que fui grosso ou agressivo, convido-o(a) a mentir que nunca xingou, em alto e bom som, um belo "Merda!" depois de bater o dedinho do pé na quina da mesa, ou que nunca chamou a vilã da novela de uma filha da puta.
Ok, não precisa mentir. Não vou criticar ninguém, também concordo que em muitos casos um otário, que só sabe falar palavrão, passa a ser chato e forçado, quando não agressivo.
Saber colocar um "porra" no final da frase, usar um "viadinho" como vocativo para aquele amigo de infância e um "Caralho!" para demonstrar espanto, de uma forma que não incomode, é algo difícil.
Por isso admiro muito os cariocas. Parece que já nascem sabendo xingar (imaginem um bebê nascendo e falando para o médico "Porra, brother, mal nasci e tu ja tá batendo na minha bunda?"), com um sotaque massa pra caralho, emendando "porra" aqui, "porra" lá, e por aí vai. Ninguém se ofende, acha isso normal e abaixa a cabeça para evitar qualquer bala perdida.
Não tô dizendo que xingar é sempre bom, não. Não acredito que seu sogro, pelo menos antes do casamento, vá querer ouvir o que você aprendeu nos tempos de escola, ou que sua sogra vá querer ser chamada de puta, só pra variar.
Nem digo que tenho classe pra falar essa merda que estou falando também não. Não ligo para qualquer vadia que disser que estou me achando, e o que te importa? Não é mesmo?
Mas vou passar uma dicas de como emanar palavrões no cotidiano, com o pouco que aprendi até os dias de hoje:
1 - Nunca substitua todos os substantivos de uma frase por palavrões. Frases do tipo "Puta, pega essa merda pra mim e põe em cima daquela porra ali." devem ser evitadas, porque atrapalham o entendimento e fica muito forçada.
2 - Em casos de dor e espanto, é indicado que se faça uma frase com apenas um palavrão, ou que ela seja resumida a ele. Como: "Porra, que legal!" ou "Merda!"
3 - Em casos de agonia ou medo de alguma coisa, substitua o motivo ou aquilo que é temido por um palavrão, ajuda a relaxar e a quebrar a tensão.
4 - No momento do sexo, tome cuidado com palavrões que vai usar, principalmente os monossilábicos. Eles podem sugerir alguma coisa que possa constrangir um dos parceiros, provocando o fim do ato. Imagine que bela bosta, né?
5 - Cuidado ao incorporar palavrões de outras culturas que não a sua. Palavrão deve ser algo bem enraigado na sociedade na qual você se insere, o diferente só o taxaria como idiota.
6 - Cuidado ao inventar palavrões novos. Eles devem traduzir o seu estado de espírito. Por isso palavrões grandes não são tão recomendados, o povo vai sentir que você se acha muito importante.
7 - Comece sempre falando poucos palavrões, até que seus amigos se acostumem com essa ideia. Suba gradativamente, até que não gere estranhamentos. Lembre-se da dica número 1, não seja forçado.
8 - Para terminar alguns palavrões que uso muito e suas aplicações:
Porra - para indicar objeto, lugar, espanto, curiosidade, admiração, ironia, desprezo, pessoa, raiva, ódio, ira, medo, esperma e outros (alguns têm muitas utilidades).
Merda - aplicado muitas vezes nas mesmas condições de "porra"; é mais indicado para a referência a uma pessoa da qual não se gosta; pode ser usado como referência a fezes.
Caralho - mais utilizado para referências de espanto e curiosidade; pode indicar pênis, então tome cuidado.
Desgraça - situações extremas. Seja de dor, de raiva de alguma coisa. É o mais recomendado para se usar ao bater o dedinho na quina da mesa.
Acho que sacaram a ideia. Poderia continuar milênios aqui citando alguns. Só digo que é bom pesquisar sobre alguns palavrões para saber do que se tratam, até para entender do que está sendo chamado, caso ele seja direcionado a você.
P.S. 1 - Para os evangélicos, lamento, post errado. Não posso ajudar vocês a xingar, Deus não gosta.
P.S. 2 - Se você leu até aqui e achou isso tudo uma grande merda,
sábado, 25 de setembro de 2010
Seu navio havia naufragado. Saiu vivo, escorado num pedaço de madeira que o levara até à praia. Perguntara-se por que estava ali, quando tudo parecia perdido. Perdera seu rumo, não sabia o que ouvir nem o que pensar. Sua bússola estava com defeito. Apontava para seu peito, apenas. Ele realmente achava que ela estava com defeito.
Nos primeiros dias quis apenas dormir. O canto das gaivotas soavam chatos, a maré o cansava. Pronto, dormiria até à morte. Ou até que dormir o cansasse. E o cansou, de fato.
Agora ficava ali. As gaivotas conversavam com ele, mas não se importava. Dizia que elas não o entendiam. Achava que ninguém nunca o entenderia. A tempestade havia sido forte, carregou para o mar tudo aquilo que era seu. Até mesmo aquela caixinha, onde guardava seus sentimentos. Infelizmente havia se esquecido de guardar a dor. E ela teve de ficar consigo, não podia ser levada embora. Era o que pensava.
Num certo dia acordou mais cedo, a sombra que pairava em cima de si deu lugar a intensos raios solares que o obrigaram a levantar. Riscou o coqueiro de contas, aquela eternidade de 30 dias parecia não ter fim.
Enquanto o tempo não passava, decidiu abrir um pouco os olhos. Logo pensou que ainda não estava preparado, uma sereia o fitava de longe, cabelos longos, cheios de cachos, sorriso penetrante e olhos bem vivos. Com certeza era uma alucinação, pensou.
Ela, deitada na pedreira, ria-se toda da ingenuidade do pobre rapaz barbudo que batia no próprio rosto como quem quisesse acordar. Esperou que ele se desse conta de que era real, o que demorou um pouco.
Aproximou-se do rapaz com um belo canto, daqueles que acalmam até a alma. Aquele percebia a notada diferença entre este e o canto das gaivotas. Decidiu falar, quem sabe ela o entenderia. Sucesso. Sentiu-se perfeitamente feliz. Naquele momento não conseguiu pensar em mais nada, apenas na linda sereia que pairava na sua frente. Achou-se precipitado, mas de fato pensou muito naquela sereia.
Conversaram sobre gnomos de jardim. Tão bonitinhos e atraentes, pareciam perfeitos cantores famosos! Mas tinham um defeito, não conheciam ninguém. Conversaram também sobre pequenos carvões, daqueles que queimam até o coração.
Viram-se rindo, juntos. Ela precisava ir embora, ele ficaria na ilha. Naquele quente verão, suas mãos se encontraram. Era um sinal.
Ela voltou no dia seguinte, no dia posterior a este e assim foi indo. Descobriram-se melhores amigos. Seus pensamentos se cruzavam várias vezes, podiam sentir. Um era mais apaixonante que o outro.
Era inevitável que se encontrariam apaixonados, já estavam desde o início. Demoraram a assumir. Mas assumiram.
Ela prometeu confiar nele e ele prometeu entrar no mar com ela. O problema é que ainda tinha medo do mar. Muito medo. Suas dores ainda não estavam superadas. Molhou o pé. Medo. O tornozelo. Não aguentaria. O joelho. Pronto. Era seu máximo.
Deixara-na ali. Sozinha. A dor que não iria embora nunca agora o rejeitava. Como pôde fazer aquilo com a pobre sereia que tanto confiou nele? Teve nojo de si mesmo, assim como as gaivotas que o odiavam. Não merecia nem a ilha.
Quis morrer, mas corda não havia ali. Nada pontiagudo. Nada. Nada. Nada.
Apenas um olhar vidrante de uma linda sereia que o vigiava de longe.
A comida havia acabado, ninguém o alimentava, a água estava escassa. Desejava a morte assim como desejou tudo na vida, não merecia ser homem depois de destruir a caixinha da sereia.
Iria morrer. Claro que iria morrer. E a morte parecia tão fácil, tão boa, que quis agarrá-la de braços abertos. Quase conseguiu. Não fosse uma maldita gaivota que a roubou de si.
Estava perdido. Nem a morte lhe restara.
Mas a sereia voltou. Seu olhar continuava vivo, ainda que com medo. Foi o suficiente para tirar-lhe a ideia de morte. Não confiava nele. De jeito algum, mas sabia que o amava e antes que se dessem conta, suas mãos estavam juntas novamente e ele prometeu nunca mais decepcioná-la. É claro que foi uma promessa forte, que não seria cumprida, mas que foi o suficiente para mantê-los.
Ele havia preparado uma nova caixinha. Dentro dela, apenas o nome da sereia e a vontade de amá-la. Foi o suficiente.
Continuaram a conversa, tinham muito a conversar, tanta coisa havia acontecido.
Antes que percebessem, estavam dentro do mar, suas guelras haviam crescido e ele agia como futuro rei do oceano. Restavam-lhes agora descobrir todos os sete mares.
Certamente eles fariam de tudo para descobrir esses sete mares.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Viagem
Já era tarde quando chegou em casa, era aniversário de seu neto. Fora um dia feliz.
Acordou cedo, leu seu jornal matinal e foi à casa do filho. Almoçaram em família. Já no fim da tarde, levou o neto para jogar futebol de botão. Como o menino havia ficado bom nisto! E voltaram para casa.
O avô teve de ficar até o menino dormir, contando histórias inventadas que sempre acabavam com um ronquinho daquele.
Agora estava ali, em seu quarto.
Fez a barba para se sentir rejuvenescido, penteou o cabelo branco como neve e fitou seu magro corpo no espelho, o mesmo corpo de nadador que atraiu diversas mulheres no passado.
Foi ao guarda-roupa, conferiu se o terno estava passado e vestiu seu samba-canção de estimação. Então foi em direção ao lado direito da cama, marcado como seu desde o início do casamento. O lado esquerdo estava vago, mas nunca perdera seu cheiro de rosas.
Agora dividia a cama com seus pensamentos e desejos, muitos deles irrealizáveis.
Pensando em como o menino crescia rápido, em como se tornaria o melhor jogador de futebol de botão do mundo, dormiu, com um belo sorriso no rosto.
Estava em sono profundo quando a janela do quarto se abriu, mas não profundo o suficiente para que não acordasse:
- É voce, não é? - disse o velho.
- Sou.
- Imaginei que estivesse a caminho. Preparo meu terno há alguns anos.
- Você são patéticos. Sua mulher me fez esperar para que pudesse se maquiar.
Era uma mulher vaidosa, que mesmo com câncer, aos 63, teimava em se maquiar. Dizia que já havia fisgado o marido, mas devia continuar a puxar com cuidado para que o anzol não se arrebentasse. E o velho ria ao descobrir a última da mulher.
Ainda com o sorriso no rosto, o velho disse:
- Obrigado por ter esperado esse dia. Não pensava que seria feliz.
A morte, encostando-se na parede, acendeu um cigarro e disse:
- Desculpe-me, esqueci que vocês precisam de dias tristes para morrerem.
- Não é isso. Foi um dia perfeito, que parecia durar para sempre.
- Vai durar, velho. Enquanto isso não me agradeça.
O velho se levantou e foi até o guarda-roupa. Tirou o terno liso do cabide e o colocou na cama.
- Poderia me despedir do meu filho? Uma ligação apenas...
- Vocês humanos são todos iguais. Nunca se contentam. Já não lhe bastou um dia perfeito, velho?
- Você tem razão. Há coisas que não devem ser ditas.
- Aí está a sensatez.
Quando a morte expulsou a última tragada dos pulmões, o velho começou a ver sua vida. A bicicleta que ganhara em seu aniversário de cinco anos; os beijos de boa noite da mãe; o primeiro beijo; a primeira transa; sua mulher, como amava essa mulher, que a cada dia ficava mais linda aos seus olhos. O nascimento do filho o emocionou muito, lembrou de quando ele quebrou a perna e de como ficou preocupado. E agora via o neto, com o mesmo sorriso bobo no rosto.
- Desista, velho, não é hora de lembrar toda a vida.
- Desculpe. Vou me vestir – disse, enxugando as lágrimas dos olhos.
Calçou as meias, colocou a calça, o cinto. Abotoou a camisa e colocou-as para dentro e pegou o blazer. Não quis tirar o samba-canção, não se sentiu tão à vontade na frente da morte.
Pensou uma última vez no filho e desejou que ele conseguisse amar o seu próprio como ele os amou.
- Como é lá? - tentou ele.
- Como você quiser.
- Vou vê-la?
- Não sei. Pode ser que sim, se ela assim quiser.
Deu uma respirada profunda e disse:
- Bem, é o fim?
A morte se sentou no lado esquerdo da cama, olhou em seus olhos azuis bem vivos e colocou a mão em seu ombro. Aquele olhar que parecia não acabar nunca terminou com um suspiro:
- Apenas o início.
domingo, 5 de setembro de 2010
Andei pensando em como seria procurar um emprego nesses dias e descobri que nao saberia responder a uma das perguntas da entrevista:
"Se você pudesse ser um animal, que animal seria?"
Típica pergunta de um chefe canalha que quer que você se foda enquanto ele ganha dinheiro.
Eu poderia dizer que queria ser um elefante, por ter boa memória; um macaco, por ter polegares; ou uma zebra e falar que zebras trabalham bem em equipe, são antenadas à bolsa de valores e desenvolvem softwares perfeitos, só para conseguir o emprego.
Mas se eu realmente pudesse escolher, escolheria ser um cachorro.
Por quê? A resposta é muito óbvia. Cachorros são felizes.
Cachorros sim trabalhariam em equipe, simplesmente pelo fato de não terem mais o que fazer. Cheirariam a bunda um dos outros, correriam, e no máximo brigariam por uma cadela no cio.
Mas o que me interessa mesmo num cachorro é o fato de eles ficarem pelados a vida toda e ainda assim conseguirem amigos, não pelo que tem e sim pelo que são. Não precisam ficar se humilhando para manter as amizades ou ficar puxando o saco de alguém.
Um cão não trai ninguém, simplesmente reage por instinto. Machuque-o e ele o morderá, ame-o e ele o amará. Correr atrás de uma bola não é humilhação, é diversão. Humanos correm e fazem humilhações por dinheiro, por que um cachorro deve ser chamado de otário por correr atrás de uma bola? Ele quis fazer isso, ué.
E se faltasse algo, eu procuraria meios de sobreviver. Um cachorro abandonado, sendo simplesmente ele mesmo, inocente e no máximo com o rabo entre as pernas, arranja um dono que o ama e o trata bem e ele vive na maior comodidade. Já esses bichos racionais podem ficar a vida inteira sozinhos e nunca acharem alguém que cuide deles, porque eles reclamam de tudo e não fazem nada para melhorar.
Simplesmente invejo o cachorro, que no mundo não procura nexo, vive em paz em busca de comida e sexo.
Mas acho que ele preferiria que eu fosse uma zebra.
P.S. : É um texto super antigo, nem me lembrava da sua existência. Achei perdido por aí e quis postar. Não é 100%, mas tá valendo.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Diálogo
Faz quase dez anos que você se foi. Lembro como se fosse ontem.
Lembro-me da sua barba roçando meu rostinho de criança, do seu olhar calmo e do copo de cerveja que não o largava. Lembro-me de você dizendo, com uma voz de que já não me lembro mais, que me faria advogado, que eu era tão inteligente e que usaria seu anel de ouro com uma imensa pedra vermelha, com as iniciais O.A.B..
Você não dizia isso a mim, dizia a todos. Na verdade, fui o que menos ouvi coisas da sua boca. Apenas ouço suas aventuras, suas festanças, todas as suas safadezas, sempre com tom de riso, alegrias das quais nunca saberei de fato.
Você dizia que me roubaria da mamãe quando eu tivesse sete.
Roubaram-no de mim aos sete.
Sempre me perguntei por quê. Acreditava que não tinham esse direito, ficamos tão pouco juntos e você, na minha época de meninice, era trocado por videogame e futebol. Não me orgulho disso, me odeio.
Acho que nunca saberei o motivo real, mas tenho umas suspeitas. Você devia mesmo ser tão gente boa quanto dizem.
Mas você se foi, acho que para me deixar gostar de rock livremente, negando muitos dos seus sertanejos; para me deixar fazer tatuagens, as quais você dizia que filho seu nunca faria; me deixar torcer pelo time rival; e, principalmente, para achar que não o desapontaria com o meu jeito de ser e de viver.
Queria-me formar advogado. Serei engenheiro. Queria-me cowboy, não sou nem o minimo parecido com isso. Hoje posso dizer isso livremente, você não está aqui, não é? A quem decepcionarei?
Você foi mesmo um sacana. Não pôde me ensinar seus dotes com mulheres, a dirigir, nem a pescar! E como eu odeio pescar! Me deu um puta nome que me faria transcender a qualquer zoação. Um nome de que me orgulho, minha única herança.
Minhas lembranças com você são mínimas, diria que tenho mais sonhos e acredito que você, na vida real, seria como nos mesmos: um herói. Aquele que resolvia tudo apenas com um olhinho de meia lua e uma conversa baixa.
E enquanto falo ou escrevo você não pode responder. Não me julgaria se pudesse, não é?
Não, não julgaria. Olharia-me com aquele simples olhar de meia lua, fitando-me de cima a baixo e dizendo que não importa o que eu faça você me amaria ainda assim.
Não me lembro de você dizendo nada parecido, mas eu sei que disse. Disse sim.
E cá estou, dez anos depois, de barba, olhos baixos e lábios finos. Esquecendo a sua face, olhando-me no espelho. Sei até onde sou, mas sei que você me olha também.
Obrigado por tudo.
domingo, 29 de agosto de 2010
Bendita é a cobra.
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Acaso
terça-feira, 24 de agosto de 2010
Classicismo de c* é r***
Assemelhar a saúde a um corpo forte, resistente e tudo o mais é uma coisa, mas dizer que é essa a representação dos deuses, pelamor, né. Que preconceito da porra.