domingo, 29 de agosto de 2010

Bendita é a cobra.

Chega!
Venho aguentando tudo isso desde a Gênese e nunca perceberam o que é realidade e o que não é.
Deus que me livre de povo burro. Não, Deus não, ele que me colocou nessa porcaria toda.
Mas a culpa é Dele! Onde já se viu, uma mulher nascer de um homem?
Querido, quem faz partenogênese é mulher, hello!
Mas, voltando. A bíblia é muito cheia de metáforas e esses leitores são muito inocentes para perceberem o que está escrito nas entrelinhas... Você realmente pensou que eu fui considerada a desertora da humanidade por causa de uma maçã?
Não! Deus foi um megero que não atendeu a nada do que pedi e, quando se cansou, jogou uma maçã na minha cabeça e me mandou seguir com a vida, levando o merda do Adão junto.
Como estava tudo monótono, o todo poderoso, que fora traído pelo anjo rebelde James Dean Lúcifer, não fazia nada há tempos. Tirou 6 dias de puro ócio, juntou um monte de matéria interestelar e fez a Terra. Ainda se sentia muito sozinho, aí criou Adão para ter alguém pra conversar sobre futebol.
Precisava de alguém para comer, não é? Aí me criou. A Eva (que mais estava para venenosa na época). Só que eu só servia pra isso, pra ser comida!
O Adão era gay, nem explorava a floresta por medo da região e eu não tinha ninguém. Tá que eu tava pegando O Cara, mas não tinha ninguém para quem contar, eu precisava fofocar! Eu precisava de uma loja de sapatos! Mas Ele nunca me atendia... Aí, né, você sabe... eu precisava de alguém para me dar as coisas...
Intentei-me com o Coisa Ruim (vulgo Tinhoso, Demônio, Diabo, etc.). Mil maravilhas, era Deus à tarde, Capeta à noite... Ganhei sapatos! Roupas Prada! Óculos e ainda peguei aquele bronze no inferno!
Deus viu que eu estava muito saidinha, daí tirou meu barbeador. Aí já viu, né? Mulher de bigode nem o diabo pode.
Fiquei SOZINHA!
Era usada pelo Bam-bam-bam e não ganhava nada em troca! Só ouvia o Adão falar das pernas de um tal de Roberto Carlos...
Tive de procurar uma vida melhor na floresta. Andava pelos matos, trepava nas árvores (tinha de trepar, né?), mas a solidão me corroía por dentro.
Foi quando conheci uma cobra.
MEU DEUS.
MEU DEUS, QUE COBRA.
MEU DEUS, QUE COBRA GRANDE.
MEU DEUS, QUE COBRA GRANDE E GROSSA!
Foi uma benção! Ela me ouvia, não falava nada, não me julgava, só ficava sibilando aquela linguinha para cima e para baixo. Jesus(não existia ainda, mas tudo bem), como isso era bom! Eu ficava totalmente perdida!
Tão perdida que num dia me esqueci de ir fazer a massagem no patrão, aquelas com final feliz, sabe? O problema é que quando cheguei lá havia me esquecido de, bem, tirar a cobra daquele lugar, né... E Ele viu, ficou puto da vida! Disse que ia fazer um dilúvio, abrir o mar vermelho, aquela porra toda.
Jogou-me uma maçã na cabeça e me condenou a viver exilada com um viado que não serviria para nada! Só bêbado para ser macho... (Sorte que os meninos puxaram a mim e mudaram a história).
Bem, é isso, bendito é o fruto, não é?
Não, bendita é a cobra verde, com sons que puxam o "s"!

Eva, sobre a Gênese.



sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Acaso

Não se conheciam.
"Vai, cara, você só vai esquecê-la quando comer outra", disseram quando convenceram-no sair com a amiga da irmã.
"Vai, Ju, você não pode odiar todos os homens por causa de um", disse a ela, quando falou do irmão.
E foram.
Marcaram num barzinho social, com música na ala direita e mesinhas na esquerda.
Ele estava à mesa, esperando a acompanhante da noite.
Já se viram algumas vezes, alguns cumprimentos cordiais, ou não, como quando ela o viu só de toalha, indo para o quarto.
Ela chegou três minutos atrasada, quase não a viu, não tirava os olhos do relógio.
Levantou-se, não quis puxar a cadeira para ela porque achava isso grosseria, não gentileza.
- Oi - disse ela, delicadamente.
- Opa - disse se arrependendo no segundo seguinte.
Sentaram-se um em frente ao outro.
"Não devia ter vindo nessa merda, acho que nem quero comer ninguém por agora."
"Ai, não devia ter vindo, parece que ele veio forçado e deve só querer me comer."
É, estavam na mesma.
- Como vão as coisas na facul? - quebrou ele o gelo.
- Vão bem, muita matéria, mal consigo acompanhar.
- E eu que pensava que faculdade era só zoar...
- É, se você pretende ser um nada na vida.
Quase caiu da cadeira, e se arrependeu mais ainda de ter ido.
- Garçom, um martini, por favor.
- Dois - disse ela, pensando que só assim poderia aguentar aquele clima.
"Podia ter ido a uma boate e dado a qualquer um."
"Bem que ela podia ficar calada a noite toda."
- Vai querer comer por agora? - perguntou ele.
- Da próxima vez que ele passar aqui a gente pede o cardápio.
- Ok.
- Vai à formatura do Direito?
- Provavelmente não, tão querendo me arrastar prum showzinho aí...
- Ah.. - "[que bom]", mas ficou só no pensamento.
- Você não estaria a fim de...
- Garçom, o cardápio por favor!
"...ir pra puta que te pariu, puta dos infernos."
- Ãã, traz a salada número 23 pra mim, por favor. Vai querer alguma coisa?
- Filé mignon, mal passado e com muita cebola.
- Não gosto de cebola.
- Que bom.
- Para ambos.
Silêncio.
Ele observava tudo à sua volta enquanto a comida não chegava. Na mesa ao lado, uma mulher espetava um queijo e dava na boca do marido, rindo. Na mesa de fronte, um casal sentado lado a lado, em plenos amassos, e eles ali, querendo ir embora.
Ela batia as unhas na mesa, como se ninguém percebesse sua agonia ali, no meio daquele silêncio. Desejou ter ficado em casa, nunca ter sido traída, ter tomado um sorvete de 3000 Calorias, ao invés de sair de casa e ter de assistir a um cara comendo cebola.
Como podiam ter concordado em sair juntos? Não tinham nada em comum e era deprimente ver ele ali, olhando pro teto e assoviando.
- Qual seu signo? - tentou ela, como sua última esperança.
- Não acredito nessas merdas.
É. Estava tudo perdido, ela sairia dali depois de comer e compraria um sorvete. Ele sairia dali e iria para casa tocar uma punheta, pensando que "essa vadia podia ter ficado calada a noite toda e apenas dado para ele".
Ela parou de bater na mesa. Ele parou de assoviar. Entreolharam-se. Apertaram os olhos e se encolheram na mesa.
- É Good times...
- Bad times - interrompeu ela.
- Você gosta?
E a viu sussurrar as palavras que Plant dizia do outro lado do bar.
Ela riu, sentindo-se boba por não ter perguntado de que ele gostava no início da conversa.
Como ele desejou que ela tivesse perguntado a quais musicas ele ouvia para ter visto antes o quanto seu sorriso era lindo, e vê-la com cara de espanto ao sussurrar um pleno "Led Zeppelin".
- Led é bom, começou ela, mas prefiro...
- Pearl Jam? - interrompeu ele.
- Como você sabe?
- Intuição.
- Pensei que não acreditasse nessas coisas.
- Algo me mandou acreditar. Quer ir dançar?
- Quero.
Levantaram-se e foram.
O filé acebolado ficou com a salada.
Aparentemente não tinham nada em comum e não tinham, de fato, mas acordariam lado a lado por um bom tempo. Assim como tinha de ser.


terça-feira, 24 de agosto de 2010

Classicismo de c* é r***

Morte aos gregos que instauraram o caos na sociedade desde a antiguidade!
Os gregos foram os primeiros boyzinhos do mundo.
Se naquela época existisse pit bull, fariam logo fila pra pegarem os deles e sairem andando na rua, desfilando, dizendo "Olhem como sou forte!", "Tenho 52 de bíceps!" e "Lugar de mulher é no tanquinho!".
Admira-me muito o fato de eles terem pensado tanto, já que cultuavam tanto (também) o corpo. Deviam amar mais o corpo do que a política, ou será que não.
Já pensou numa aula de Aristóteles com Platão: "Olhe Aristóteles, pra ficar com um corpo sarado como o meu você precisa ser idealista e imaginar que no campo das ideias todos os homens são másculos, sarados e não pegam ninguém. Só malham e filosofam, oks?".
Assemelhar a saúde a um corpo forte, resistente e tudo o mais é uma coisa, mas dizer que é essa a representação dos deuses, pelamor, né. Que preconceito da porra.
Zeus, então, não podia ser um gordão (nada contra os gordos, me identifico bastante com eles), que já era o deus dos deuses, que não tinha que se preocupar com merda nenhuma, só ficava lá, mandando, comendo (dizem que todas...) e apertando uns raiozinhos pra relaxar.
Não! Ele tem de ser forte, porque todos os fodões são fortes, injetam anabolizantes e são brochas.
O pior de tudo é que essa concepção foi retomada pelos maiores gênios da arte! Michelângelo devia ser um gordo, frustrado, morto de raiva pelos preconceitos dos demais, que, por perda de tempo e falta de comida, descarregou toda sua raiva e criou Davi, o perfeitão, firme, forte e satisfeito. Todo cheio de músculos definidos, é visto como o homem mais bonito e perfeito do mundo.
É de ficar sentido com uma coisas dessas, pô. É crime ter aquela barriguinha, resquícios de chocolates na infância e de cerveja na adolescência? Se Davi fosse vivo ele nunca teria bebido, não conheceria ninguém, ia injetar o que fosse preciso pra manter aquele corpitcho.
Morte a esses filhos da puta que nos tiram o direito de sermos felizes!
Morte a esses filhos da puta que fazem as mulheres terem estereótipos de beleza e que, pra nos darem prazer, nos forçam a igualarmo-nos a esses boyzinhos!
Isso é preconceituoso, cadê nosso direito de comer aquela gordura de uma picanha mal passada, berrando, com um arroz à piamontese? Claro, não vamos nos esquecer da coca-cola, que contribui para o nosso distanciamento aos greguinhos queridos.
O que importa se o cara é sarado e malhado? Todas elas dizem que o que importa é a pegada. Um gordo tem muito mais vontade sexual (não sabia disso, né, danadinha?) e tá louco de amor para dar e pode muito bem ter uma boa pegada. Enquanto você, mulher, só se preocupa com um malhadinho, que vai ficar brocha aos 30.
Abaixo o Classicismo! Quero meu direito de ser feliz com a minha barriguinha de cerveja!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Arnaldo Jabor

Navegando por sites desconhecidos hoje, coincidentemente, achei um texto do Jabor que ilustra bem o meu post de ontem:
"O que você procura pode ser impossível de achar, então, procure algo que você pode achar e seja feliz ao invés de passar a vida inteira procurando algo indefectível que você nunca vai encontrar."

domingo, 22 de agosto de 2010

E o que te importa?

Perguntas como "De onde viemos?", "Para onde vamos?" e "Esta é a vida real?" são frequentes no mundo todo. Eu, com todo perdão da palavra, acho isso tudo um grande desperdício, não vejo a importância que esse povo todo vê nisso, e acho um tema muito bobo para valer uma vida.
Imagine, viveu uma vida inteira buscando respostas cosmológicas para aplicar numa teoria atômico-molecular que pega o sentido de rotação do elétron e relaciona com o campo magnético criado por ele e ainda com forças elétricas que garantem a coesão molecular, a polaridade responsável pela adesão de angiospermas que conseguem retirar a água do solo e levar até as folhas, pressão positiva, pressão negativa, nucleófilo, ELETRÓFILO, AAAAAAAAAAH.
Relaxa, eu sei que você pulou o parágrafo de cima, espertinho. Eu também o faria. Se o parágrafo é chato desse jeito, imagine a vida frustrada desse filho da puta, que apesar de tudo não descobriu de onde veio.
Não confunda e pense que estou menosprezando a ciência, porque não estou. A grande questão é, vale a pena viver uma vida regida por perguntas cujas respostas talvez nunca serão alcançadas e que não mudarão merda nenhuma? Do pó viemos e ao pó retornaremos, isso não basta?
Pra mim também não, de verdade. Eu vim da minha mãe, 17 anos atrás, e, com grande infelicidade, amanhã vou à escola.
Ou melhor, o que te importa o lugar de onde vim e o lugar aonde vou?
Sacou a idéia?
Estou vivo e vivo da forma que quero, quando minha mãe e o vestibular deixam. Não existe segredo para se viver, quem te falou que a fórmula para alcançar a felicidade está num livro, seja ele a bíblia ou o próprio Segredo, mentiu.
ABAIXO OS MENTIROSOS CRIADORES DE FALSAS ILUSÕES! TENHO 17 ANOS E JÁ QUERO APOSENTAR, PORQUE PRECISO DORMIR, E AINDA NÃO FIQUEI RICO!
Se vou ficar ou não eu não sei, mas vou dedicar a minha vida a coisas que me satisfaçam. Não vou dispensar uma boa música, a comida da minha mãe, as risadas dos colegas e principalmente não vou dispensar minha namorada, prefiro descobrir filmes estupidamente ridículos e românticos com ela a inventar uma fórmula matemática.
Todos viemos com um único propósito, viver. Quem fica procurando respostas para isso ainda não descobriu nem seu próprio propósito, imagine o resto. A vida é tão curta e mesmo quando se vive loucamente não dá para aproveitar tudo, então por que não aproveitar nada? Isso é masoquismo.
Pra mim, a beleza da vida tá na simplicidade, não vou passar minha vida inteira questionando o inevitável, vou fazer o inevitável para que seja feliz.
E o que me importa falar disso, né? Quem sou eu. Pois é, e o que te importa? Me importo bem mais com a janta que tá saindo daqui a pouco do que com universos fechados ou não.