quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Conto de fadas moderno

Não era uma vez num reino urbano distante, chamado de Twittópolis, num tempo futuro, mas não tão distante deste, quando o protagonista desta história (jovem e moderno o suficiente para, em sua longa viagem de descoberta moderna, romper com tradições) tinha como principal desejo a liberdade.

Em um dia bem feio, daqueles em que as fumaças de carros e usinas cobrem o céu, príncipe Claudius acordou mais cedo, tinha planos com a princesa Ofélia para este dia.

Ele estava agora com seus 21 anos e já se preocupava em esconder suas olheiras, em arrancar um ou outro fio de cabelo branco que aparecia. Nada fora do normal. Achava que assim como todos, deveria, antes de tudo, parecer jovem. Tomou seu banho, calçou seu all star azul, não penteou o cabelo e desceu os longos lances de degraus do castelo.

Passou com cara fechada na sala do trono, na qual se encontravam seus pais. Mantinham uma bela distância um do outro e nem tempo tiveram de perguntar ao filho se precisava de algo. Suspiraram. A mãe enxugava os olhos e dizia “Esse nosso filho está tão crescido...”.

Já havia conseguido liberdade para sair do castelo e só voltar depois das três. Era de hora de ajudar Ofélia a conseguir tal feito. Entrou na sua carruagem porsche, de 340 cavalos, colocou músicas dos anos 60, diferindo-se de todos.

No caminho, ia se lembrando das coisas que havia conseguido. Dentre elas, a que mais gostava era a independência. Amava não ter de dar satisfações para os pais, não depender deles para fazer suas rebeldes ações. Sentia-se livre. Livre para beber, fumar, transar. Livre para ser jovem. Pensou em como amava ser jovem.

Mas tal pensamento foi interrompido quando se encontrava na porta do palácio do rei Tradição, pai de Ofélia. Aproximou-se da torre em que a princesa se encontrava e jogou uma ligação em sua janela, que dizia “Acalme o dragão que eu arranjei uma festa bacana pra gente ir”.

Os pais de Ofélia não gostavam muito deste mundo moderno. Achavam-no perigoso e por isso prendiam a filha, por medo do que aconteceria a ela. Mas a filha era esperta, levava consigo sempre uma roupa reserva, maquiagem, pente e um batom vermelho. Parou em frente aos pais, com um longo vestido branco, sem maquiagem e cabelo desarrumado. Logo disse que teria de estudar até mais tarde na casa da princesa Acobertadora. Seus pais não puderam recusar tal pedido.

Ela conseguiu sair do castelo, entrou na carruagem, deu um longo beijo na boca de Claudius e disse: “Vamos agitar, baby.”

A festa era realmente tremenda. Não pararam um só minuto. Festejaram demais, beberam demais, fumaram demais, como se tivessem medo de que tudo aquilo fosse escapar até a hora de ir embora, que para ela, seria às quatro. Mas já haviam conseguido tudo o que queriam para aquela noite. Não se importavam de ter de voltar para seus castelos.

Claudius, então, deixou Ofélia em casa, com um beijo triste de despedida e dizendo, enquanto ela se dirigia às portas levadiças, “Amanhã lutamos de novo”.

Dormiria sem saber pelo quê.

Quem sabe, ao acordar, desejasse lutar contra o emprego dos pronomes, ou contra o consumismo. Afinal, já eram quatro e meia da manhã, ele deveria dormir para conseguir pensar em sua "causa".

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