domingo, 29 de maio de 2011

Um novo filme



Não estaria tão frio assim se tivesse colocado ao menos uma calça jeans. Mas não, é tão sem noção que vestiu só um shortinho e uma camisetinha. Tava ventando muito do lado de fora, melhor entrar. Entramos. O ar condicionado do shopping faz você mais uma vez reclamar do frio. A distância de meio braço que nos separa não vai me ajudar a te aquecer. Quase suspeito de que você quer que eu te abrace, mas não ouso a oferecer assim, na frente de todo mundo.

Andamos pelo shopping, conversando. Sempre conversando, assunto é o que não falta aqui. Passamos em uma livraria e você me fala de um monte de livros que eu sei que você não dá a mínima, mas te escuto com um sorriso no rosto. Penso em falar dos meus gostos literários com você, mas meu ciúme dos mesmos me faz ficar calado. Quem sabe, quando nós formos mais íntimos...

Subimos e paramos na fila do cinema. Você brigou comigo por querer pagar os ingressos, mas ainda assim eu paguei na sua frente. Você reclama e reclama, então eu te peço pra comprar uma pipoca. Você diz que não gosta de pipoca, porque sempre fica alguma coisa no seu dente. Eu me pergunto o que você quer dizer com isso, mas aceito em não comprar pipoca também.

Tinha pouca gente na sala, sentamos no fundo. Você queria o meio, mas eu prefiro o fundo. Éramos dois errantes no meio de um cinema deserto. O filme era bom e famoso, nós dois queríamos assistir.  Eu sentei no canto esquerdo, no lugar mais escuro da sala, você do canto direito, ainda um pouco iluminada pelo telão, de forma que deu pra ver a hora que eu busquei a sua mão com a minha, no braço da poltrona. Você não tirou a sua, eu sorri no escuro, sem que você visse.

Mais uma vez você reclama do frio. Dessa vez eu não me controlo, já estou me achando frouxo demais. Pergunto se você quer que eu te abrace e você diz que não precisa. Mas com o braço que não está preso à sua mão eu te abraço e você se aninha no meu peito. Não tive tempo pra ver se você estava sorrindo, fui pego numa armadilha. Sem que visse, eu já estava cheirando seus cabelos. Suspirando, baixinho. Quis beijar sua cabeça, depois descer pra sua bochecha até que, sem ver, estaríamos nos beijando. Mas não o fiz. Fiquei respirando você, lentamente, extasiado.

Longos minutos se passaram e você não se mexeu. Disse que estava quentinha agora, então quis ficar quietinha. Apertei a sua mão. Você olhou pra mim. Fitou meus olhos no escuro, num lugar em que só você saberia onde eles estavam. Pena que não conseguiu ver quando eu os fechei e me aproximei de você, beijando a sua boquinha. Não num beijo desesperado, ardente e caloroso. Mas um beijo calmo, simples. Beijei seus lábios como se quisesse sentir seu gosto, lentamente. Senti sua nuca arrepiando no meu braço e isso foi um sinal pra que eu te puxasse pra mim. Você meteu a sua língua na minha e, sem que eu visse, um novo filme tinha acabado de começar.

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