domingo, 29 de maio de 2011

Canalha que sou

E finalmente, após longas delongas, eu venho aqui para contradizer tudo aquilo que já foi dito: eu não presto. Não presto mesmo, não tenho nenhum pudor. Não valho nada.

Como diria o Carpinejar, o homem que nunca ouviu um “Canalha!” ainda tem de aprender muito. E ainda uso das palavras do ilustríssimo citado anteriormente: o canalha é verdadeiro.  A transparência nos dias de hoje é algo quase utópico e é por isso que o canalha se destaca, porque ele assume os defeitos que tem, aqueles que todos enxergam.

É, eu também pensei por muito tempo que fosse uma mulher, mas não, não a sou. Na verdade eu tô cansado de dizer o que eu sou, digam-me vocês. Sou um cara que acredita demais nas pessoas? Que acredita demais no amor? Ou, se vocês ainda insistirem “Não, você é uma mulher por dentro”. Nada disso me define. Até porque se eu soubesse o que de fato o faz, não estaria escrevendo merda alguma. Não haveria sentido.

A verdade é que nós todos somos ridículos e essa é a nossa melhor definição.  Eu também sempre quis criar frases de efeito. Nada de claricismos ou pessoísmos. Sempre quis criar frases descontraídas, mas de efeito, que pudessem definir os outros, assim como eu encontro um bocado de coisas que me definem por aí.

E, hoje, em pleno domingão e fim de maio, ridículo que sou, usarei a definição do Carpinejar. A que mais me agrada é a de um “canalha!”, com exclamação. Não confunda com cafajeste ou filho da puta, por favor.

O canalha não presta.  Todos sentem raiva de um. Simplesmente porque ele vive a vida que tem. O canalha não tem medo de ser ele mesmo, porque reconhece as suas limitações e suas qualidades, então, ele não liga para o que os outros pensam. Nunca perde seu espírito de criança, fazendo dos infernos, uma simples molecagem. O canalha tem um sorriso malandro, guardado para pouquíssimas pessoas. Um sorriso que destrói qualquer muralha, que fragiliza qualquer um. Isso faz com que as pessoas se entreguem e nesse “entregar-se”, elas sentem raiva, porque não confiam em si mesmas, ao ponto de se deixarem nas mãos de outro. O canalha é um ignorante. Ele não tem medo de amar, de sangrar. Atropela qualquer sentimento.

Mas a raiva sentida é uma raiva gostosa, uma raiva de desejo, de quero mais. Nada de “você não vale nada, mas eu gosto de você”. Quem tem um canalha em casa, sabe que ele presta para muitas coisas. É uma pena que a raiva não é o único sentimento que ele cativa nos outros.

Cada canalha é odiado. As pessoas sentem muito medo de enfrentar as coisas e são extremamente egoístas. Elas pensam que se amam acima de todas as coisas e, por isso, qualquer um que tente amá-las mais do que elas próprias é visto como um corpo estranho, que precisa ser eliminado. Esse é o maior talento do canalha, ele ama mais os outros do que eles próprios conseguem se amar. E é aí que entra o seu maior rival, o ciúme.

Ou pior, o autociúme. As pessoas “canalhizadas” se sentem na obrigação de se amar mais, por vaidade. Onde já se viu, alguém me amar mais do que eu mesmo? E é aí que o canalha se dá mal, porque quando as pessoas se amam o suficiente, elas se acham independentes demais e essa independência causa solidão. E elas, como retardadas que são, vão procurar por aí, outro infeliz para que sejam desafiadas a se amar mais, porque é isso que um canalha faz. Faz as pessoas se amarem mais. Muito mais.

Um canalha vive e é chamado de bandido, por ferir o egoísmo das pessoas. Eu, como canalha que sou, não tenho pudor algum, porque, para morrer de amor, tive que não morrer (valeu Tati Bernardi pela excelente frase) e assim, continuar vivendo.

Canalha!

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