segunda-feira, 4 de abril de 2011

Clássico pro além


Algumas coisas acontecem tão aleatoriamente, que você realmente só se dá conta da merda que fez quando elas passam. Sério.

Não sei se foi em janeiro do ano passado ou do retrasado, quando o avô de umas amigas minhas faleceu. Sei que ele tava bastante doente, o que fez até com que as meninas tivessem de voltar de viagem pra acompanhar o caso, até que infelizmente ele partisse para o lado de lá, com elas já aqui.

Coincidentemente, essas amigas são primas de uma ex-namorada minha, que ia me informando das notícias em tempo real mundodigitalizado, me dizendo como as meninas estavam, como seria o andamento das coisas e até se precisavam de algo.

Eu, como bom amigo, tava louco para vê-las, pra poder reconfortá-las nem que fosse com um simples abraço, só que não sabia se seria possível. A gente sempre fica meio em dúvida se é amigo o suficiente pra essas coisas, se tem permissão pra entrar na família assim, num momento tão frágil, por mais que de uma forma ou outra a gente ja esteja lá. Sei que já era por volta das 14h quando minha ex me ligou. Eu sabia que ela tinha estado com as meninas, mas não sabia onde ela estava naquele momento e nem para onde ia.

É claro que, para qualquer pessoa inteligente, a resposta é bem óbvia, ela voltaria para o local do velório até a hora do enterro. Mas o problema é que às vezes eu sou inocente demais e acabo não pegando as coisas no ar. O resultado disso, é claro, são momentos embaraçosos.

Eu não sabia para onde ela iria, sei que ela me perguntou se eu queria ir para "lá" e eu, como bom namorado, disse que queria, lógico, seja lá onde ficaria esse "lá". Eu de fato pensei que ela ja teria ido embora do velório e que não voltaria pra lá. Calcei então uma chinela, vesti uma bermuda e coloquei uma camiseta do Goiás. Um visual totalmente descomprometido, de alguém que vai andar na rua, na praia, no inferno que seja, MENOS NUM VELÓRIO!

Minha ex-sogra veio aqui me buscar. Entrei no carro, cumprimentei quem ali estava e botei a mão na cabeça. "Porra, a gente vai voltar pra lá. Caralho, olha a roupa que eu tô usando, puta que pariu.", pensei. Minha boca se movimentou numa espécie de sorriso, aquele que só o desespero traz. Vaaaaaamos para o velório, então.

Eu não sou muito vaidoso quanto a roupas, tô pouco me fodendo para o que vão achar da forma com que eu me visto, mas eu tenho uma coisa que, sei lá, diz que existem lugares onde não se pode ir alternativo, ou descontraído, por uma espécie de respeito. Eu nunca pensaria em ir ao velório com camiseta de time, ainda mais quando o defunto torce pro time rival. O traje mais "pensável" seria um social, com uma calça jeans e sapato, no mínimo... Enfim, 2 a 0 para o traje social, tava perdendo de goleada. Fiquei constrangido pra caralho, achando que a galera tava me fulminando com os olhos (atleticanos safados...).

Sei que continuei na minha, a merda já tava feita. O pior é que eu de fato não tinha intenção de usar aquelas roupas, não sabia nem para onde ia, sei que aconteceu e fiquei com medo apenas de o povo colocar palavras na minha boca. Odeio isso.

Entrei lá, na maior cara de pau, cumprimentei quem estava de luto, até chegar nas meninas. Elas também pouco estavam se fodendo pra minha roupa, me abraçaram, choraram no meu peito e eu tentei reconfortar cada uma, com o que eu já aprendi nessa vidinha sobre a morte. Abracei cada uma delas apertadamente e ofereci tudo que eu podia, a minha companhia como sustentação.

Creio eu que tenha bastado para elas e que no final tenha compensado meu traje esportivo. Mas com certeza alguém reparou na minha roupa e pensou alguma maldade. É típico, sempre o fazem. Mas quer saber? Se pensaram ou não, foda-se, o cara era atleticano roxo, se eu fui com a camisa do Goiás eu dei pelo menos uma lembrança de um clássico pra ele levar pro além! Não importa a roupa que eu estava vestindo, o papel de amigo eu fiz, tentei ser o melhor pra elas e fiquei com a consciência tranquila. Acho que é assim que tem que ser.

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