segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Encontro Marcado



Conheceram-se numa tarde de maio.

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Mariposa Apaixonada de Guadalupe era uma mulher insegura. Muito.  Daquelas que ficam em casa num sábado à noite tomando um sorvete e assistindo a Comer, Rezar, Amar. Não saía nunca. Ficava sempre em casa com a mãe, mesmo aos 28 anos de idade.

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Arlindo Orlando era um cara bem rústico, trabalhador e bastante prestativo. Não era muito bom com as palavras, mas sabia demonstrar bem as coisas que queria. Com uma determinação do cão, ia até o inferno para alcançar seus objetivos.

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Encontraram-se várias vezes. Sempre virtualmente.

Foi num site de relacionamentos que começaram a conversar.

Ela, desesperada por um novo amor, mal conseguia conter sua empolgação. Não parava de falar. Perguntava tudo sobre sua vida e mal esperava uma resposta para puxar um novo assunto.

Ele, que era bombardeado por perguntas, não sabia como responder. Perguntava para a mãe e para o melhor amigo o que responder nas horas certas. Sorte a dele que tinha ajuda, pois a conquistou fácil, fácil.

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Moravam na mesma cidade e achavam um cúmulo nunca terem se visto antes. Afinal, próximos e íntimos como ficaram, a cidade era pequena demais para os dois.

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Ele, mesmo sem saber o que falar, dizia tudo aquilo que ela queria ouvir.

Apenas sendo ele mesmo, conseguiu fazer com que ela acreditasse no verdadeiro amor. Com que ela acreditasse que existem pessoas que encaixam na vida dos outros assim como uma luva serve numa mão.

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Ela, com seu jeito inseguro e delicado, fez com que ele percebesse o fato de como as pessoas conseguem se entregar a outras. Fez com que ele se sentisse feliz. Um homem simples e rústico daquele jeito, com uma princesa tão delicada se entregando espontaneamente para ele.

Era muito mais do que ele um dia já sonhou.
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Como uma breve brisa de inverno, passou-se o tempo e aumentou-se a vontade de se verem.

Marcaram um encontro.

Seria num restaurante mais ou menos chique, no centro da cidade. Lugar limpinho e cheiroso, mas nada tão caro que ele não pudesse pagar um vinho mediano e uma boa comida.

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Ela, que nunca soltava o cabelo, penteou-o e deixou com que ele caísse pelas suas costas, brilhando e radiando ainda mais sua beleza insegura e contida.

Iria sozinha para o restaurante. Não haviam trocado endereços, então marcaram de se encontrar lá às sete.

Inocente, fez-se um pouco de difícil e acabou chegando no local mais tarde. Não o encontrou lá.

E naquele que deveria ser o dia mais feliz de sua vida, Arlindo Orlando desapareceu. Escafedeu-se. Não deu as caras por lá assim como ela nunca mais recebeu notícias suas.

Aquilo bastou para que ela nunca mais confiasse em outro homem, assim como bastou para destruir toda a imagem que ele havia construído de bom moço, prestativo e bom amante.

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Eram 17h30 e Arlindo Orlando resolveu tomar banho. Passou sua camisa e o terno e deixou-os em cima da cama, para vestir após o banho.

Pegou a navalha e o creme de barbear e ficou de rosto liso, demonstrando algumas marcas de espinha da adolescência.

Teria um encontro logo mais e queria estar bastante apresentável, para que ela não desistisse.

Ligou o chuveiro e deixou aquela água quente escorrer pelo seu rosto. Extremamente nervoso, estava com muito calor. Resolveu, então, mudar a temperatura da água, para que a água fria acalmasse seus anseios e relaxasse sua mente.

Foi assim que terminou a vida de Arlindo Orlando. Com uma queda de energia na casa, dado ao choque que levara, o que fez com que sua mãe o encontrasse morto no banheiro.

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Para a companhia de energia da cidade, Arlindo Orlando virou estatística.

Para sua amada, virou um filho da puta.