quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Meu amigo McFly

Era uma vez meu amigo
Que de tão sabido,
Do futuro quis saber.

Deu sua mão pra ler
Mas ficou arrependido,
Soube de tudo que não queria ver.

Mas esse meu amigo era esperto,
Mesmo com um futuro incerto,
Sabia se virar.

Para todas as coisas ruins que soube, disse não.
E com sua curta linha da vida,
Amarrou o pulso,
Cortou fora sua mão!

Depois disso, esse meu amigo viveu pra sempre.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Concretismo

Argila e calcário,
fundidos a 1450 ºC.
Gipsita.
Pó!

Areia,
água
e brita.

Pode não ser profundo,
mas é concreto.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Encontro Marcado



Conheceram-se numa tarde de maio.

***

Mariposa Apaixonada de Guadalupe era uma mulher insegura. Muito.  Daquelas que ficam em casa num sábado à noite tomando um sorvete e assistindo a Comer, Rezar, Amar. Não saía nunca. Ficava sempre em casa com a mãe, mesmo aos 28 anos de idade.

***

Arlindo Orlando era um cara bem rústico, trabalhador e bastante prestativo. Não era muito bom com as palavras, mas sabia demonstrar bem as coisas que queria. Com uma determinação do cão, ia até o inferno para alcançar seus objetivos.

***

Encontraram-se várias vezes. Sempre virtualmente.

Foi num site de relacionamentos que começaram a conversar.

Ela, desesperada por um novo amor, mal conseguia conter sua empolgação. Não parava de falar. Perguntava tudo sobre sua vida e mal esperava uma resposta para puxar um novo assunto.

Ele, que era bombardeado por perguntas, não sabia como responder. Perguntava para a mãe e para o melhor amigo o que responder nas horas certas. Sorte a dele que tinha ajuda, pois a conquistou fácil, fácil.

***

Moravam na mesma cidade e achavam um cúmulo nunca terem se visto antes. Afinal, próximos e íntimos como ficaram, a cidade era pequena demais para os dois.

***

Ele, mesmo sem saber o que falar, dizia tudo aquilo que ela queria ouvir.

Apenas sendo ele mesmo, conseguiu fazer com que ela acreditasse no verdadeiro amor. Com que ela acreditasse que existem pessoas que encaixam na vida dos outros assim como uma luva serve numa mão.

***

Ela, com seu jeito inseguro e delicado, fez com que ele percebesse o fato de como as pessoas conseguem se entregar a outras. Fez com que ele se sentisse feliz. Um homem simples e rústico daquele jeito, com uma princesa tão delicada se entregando espontaneamente para ele.

Era muito mais do que ele um dia já sonhou.
                                                                             ***

Como uma breve brisa de inverno, passou-se o tempo e aumentou-se a vontade de se verem.

Marcaram um encontro.

Seria num restaurante mais ou menos chique, no centro da cidade. Lugar limpinho e cheiroso, mas nada tão caro que ele não pudesse pagar um vinho mediano e uma boa comida.

***

Ela, que nunca soltava o cabelo, penteou-o e deixou com que ele caísse pelas suas costas, brilhando e radiando ainda mais sua beleza insegura e contida.

Iria sozinha para o restaurante. Não haviam trocado endereços, então marcaram de se encontrar lá às sete.

Inocente, fez-se um pouco de difícil e acabou chegando no local mais tarde. Não o encontrou lá.

E naquele que deveria ser o dia mais feliz de sua vida, Arlindo Orlando desapareceu. Escafedeu-se. Não deu as caras por lá assim como ela nunca mais recebeu notícias suas.

Aquilo bastou para que ela nunca mais confiasse em outro homem, assim como bastou para destruir toda a imagem que ele havia construído de bom moço, prestativo e bom amante.

***

Eram 17h30 e Arlindo Orlando resolveu tomar banho. Passou sua camisa e o terno e deixou-os em cima da cama, para vestir após o banho.

Pegou a navalha e o creme de barbear e ficou de rosto liso, demonstrando algumas marcas de espinha da adolescência.

Teria um encontro logo mais e queria estar bastante apresentável, para que ela não desistisse.

Ligou o chuveiro e deixou aquela água quente escorrer pelo seu rosto. Extremamente nervoso, estava com muito calor. Resolveu, então, mudar a temperatura da água, para que a água fria acalmasse seus anseios e relaxasse sua mente.

Foi assim que terminou a vida de Arlindo Orlando. Com uma queda de energia na casa, dado ao choque que levara, o que fez com que sua mãe o encontrasse morto no banheiro.

***

Para a companhia de energia da cidade, Arlindo Orlando virou estatística.

Para sua amada, virou um filho da puta.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O Auto do Compadre Sílvio

À espreita, como um leão fica de sua presa, ao lado de sua poderosa máquina pega-mulheres

Não. Nossa amizade não é escrita em três atos, porque se assim fosse ela teria um fim. E ela não tem.

Mas infelizmente, egoísta que sou, para falar o que quero, tenho que falar de mim.

Sempre fui intrometido mesmo. Acho que foi por isso que nós nos tornamos amigos.

Se eu não saísse por aí, metendo meu dedo em qualquer lugar (não pensem trocadilhos, seus filhos da puta, o texto é sério), não teria me sentido no direito de lhe mandar tomar no seu respectivo cu, quando muitas vezes reclamou da sua vida, quando nós não éramos nem amigos.

E aí eu fico imaginando o que você pensava de mim. Um cara arrogante e prepotente, que você confirmou anos depois ser a imagem que você tinha de mim, vir do nada e dizer que a vida tem de ser vivida, quando você, jovem Werther , duvidava disso.

Foram longas discussões, nas quais eu tive a grande oportunidade de comparar a vida a uma melodia de música, comparação esta que nunca mais serei capaz de repetir. E após tudo isso, aquilo que antes era apenas um duelo de retóricas, tornou-se um sentimento fraternal, na qual eu não queria que você desistisse. Não tão cedo.

Anos depois, num réveillon em que ambos estávamos sozinhos nas nossas respectivas casas, eu acabei descobrindo que eu me preocupava com você, assim como um pai se preocupa com um filho. Descobri que tenho e que gosto disso. De me envolver demais, de ser tão intenso com as coisas.

Deve ser por isso que eu mandei Forever Young do Bob Dylan pra você. Foi quando nos tornamos amigos de verdade. Companheiros. João’s de Santo Cristo. E eis que sempre servimos de base um ao outro. Você discorrendo sobre suas coisas feias e eu sobre as minhas, um lamentando mais que o outro. Mas nunca perdendo a oportunidade de sacanear, de trollar.

Assim, eu ainda imagino que essa discussão que nós tivemos na semana passada não passa de um troll, na qual um vai olhar para o outro e dizer “Pff, você achou que era sério?”. A falta de humildade de ambos nos fez dizer coisas pesadas um ao outro e, sinceramente, vai tomar no seu cu por ter feito isso. É, tô esperando você me mandar ir também...

O real é que eu não consigo falar nem um terço do que eu quero. Porque amizade é assim, um sabe do outro sem que seja preciso uma palavra. Mas ainda me sinto na obrigação de lhe dizer uma: desculpa.

Não quero que essa merda que aconteceu, ainda mais a porra da matemática, atrapalhem esses nossos poucos anos de amizade (ainda), porque, querendo ou não, você é feio pra caralho e eu não sou didático por MSN, mas nós somos amigos.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Saindo de uma fossa bem servida

Seu telefone toca.

De uma hora para outra, tudo aquilo que você pensou que fosse durar para sempre acabou. Todos seus sonhos que estavam pendurados no varal, a secar, caem com um simples vento, ao final de uma única ligação. Você chora. Tenta entender. Não consegue. Aí o destino lhe dá um tapa na cara e diz “Não entenda, apenas aceite”.

E o que é que você faz? Tenta entender.


              Sempre existem músicas sertanejas para afogá-lo em desgraça ajudá-lo a superar

Nessa busca pelo entendimento, você fecha sua cabeça. Não consegue se lembrar de um defeito se quer. Nada. Encuca que seu namoro era perfeito e que provavelmente há algo de errado com o mundo, para que ele acabasse assim, tão repentinamente.

É aí que começa o problema. Repentinamente, de uma hora pra outra, é o caralho.

Sempre houve indícios. Sempre houve momentos em que você mesmo pensou que fosse acabar ou até desejou que acabasse, por cansaço. Mas não tinha acontecido, não até agora. O desgaste do relacionamento desgastou vocês dois, com o tempo, até que aquilo ali tivesse de ter um fim. Nada de repentino.

Mas você é cabeça-dura. Fica enfurnado dentro de casa, tentando se isolar de tudo aquilo que o afasta de sua amada. Venera e idolatra todas as suas boas memórias, como se só elas existissem, como se isso diminuísse a sua saudade. Briga com todos os amigos que o mandam seguir adiante. “Como assim, seguir adiante? Ela é a mulher da minha vida. Não vou perdê-la.”.

E é com todo esse egoísmo que você descobre que está fodido. Na merda. Ou pelo menos é o que você acha. Todos dizem que é hora de seguir em frente. Você quer muito seguir, mas se fecha a qualquer oportunidade. Como seguir, então?

Primeiro passo: você não é o Mr. Catra. Essa é uma coisa que você consegue aceitar e entender facilmente. Você não é patrão. Por isso, não é porque o seu namoro acabou que você tenha que se revelar o maior putão do universo, pegador de todas as mulheres e passador de pica na cara das mesmas.

Ela dá pra nóis, que nóis é patrão
Já o segundo passo é maior. Bem maior. Envolve toda uma experiência de vida.


Encarando o fim do relacionamento e se redescobrindo


Você não vai conseguir, mas seria essencial que entendesse que sua vida não acabou simplesmente porque ela entrou com o pé e você com a nádega esquerda. Tá doendo, eu sei. Dói demais. Mas a vida não vai parar porque seu coração está partido não, querido. Tanto ela quanto o suposto amor da sua vida estão pouco se fodendo pro seu estado emocional.

Mas entenda que não é porque as coisas são assim que você deve ser um outdoor ambulante que irradia felicidade. Geralmente, sofre mais aquele que tenta mostrar o quão bem está após a separação e como isso foi bom para a sua vida. Acredite: ninguém sai bem de um término, mas a vida segue.

E é nesse seguir que a primeira coisa que você deve fazer é: deixar a sua ex-namorada livre. Se um relacionamento acabou é porque não dava mais. Não naquele instante ou até mesmo nunca mais. Como já dizia minha falecida vozinha “Quando uma mulher quer, nem o diabo consegue impedi-la”. Então, deixe-a ir. Não se prenda a ela. Não a busque. Deixe-a viver a vida que ela não teve com você.

Outra, ouça seus amigos. É quando você tá na merda que descobre quem é verdadeiramente amigo e quem não o é. A maior parte dos seus colegas, que não aguentam ouvir você chorando por uma menina 24/7, logo somem e o deixam ainda mais sozinho. Porém, aqueles outros, que ficam do seu lado, falando coisas que você não quer ouvir, só querem o seu bem. Muitos deles já passaram por tudo isso que está passando, então é uma experiência válida. Muitos, às vezes, precisam machucá-lo para que você perceba onde está. Só fazem isso, porque é algo que apenas eles teriam coragem de fazer. Só eles o conhecem suficientemente bem para dizer o que é necessário.


                                          I'm gonna die with a little help from my friends

Deixando a dita-cuja livre e ouvindo seus amigos, você estará a um passo de se redescobrir.

O fim de qualquer coisa na vida é sempre um choque e é justamente por isso que ficamos perdidos, sem ações. Você acaba se esquecendo de quem é, de quem sempre foi e se lembra apenas de quem era dentro do seu relacionamento, como parceiro. E assim, ver os seus amigos acompanhados dói, sobrar numa pizzaria também, assim como todos aqueles outros programas pra onde é arrastado. Você fica chato e cabisbaixo. Seu único assunto é a sua musa do verão, aquilo que ninguém mais aguenta escutar.

Você a libertou, mas não consegue se livrar das algemas que o prendem. Aí fica difícil seguir em frente, né?

É por isso que você também tem que se deixar livre. Parar de ter pena de si mesmo e aceitar que algumas coisas na vida não foram feitas para durar para sempre. Parar de se culpar pelo fim. Parar de se ver apenas ao lado dela e começar a se ver. Não com outra, nem sozinho. Começar a se ver como você sempre se viu e viveu até o dia em que encontrou alguém. Encontrar aquele cara que ficou guardado dentro do baú por seja lá quanto tempo. Aquele cara engraçado, que sabia fazer a galera rir, que se divertia e que era feliz.

Quando encontrar, você deve se reconhecer nele. Aí você vai descobrir, nesse mesmo cara, um homem completamente diferente, com uma bagagem de experiências muito maior, muito mais apto para enfrentar o mundo.

A partir do momento que você se reconhece e se aceita da forma que está, sem ela, abre as portas da vida com um pontapé muito mais forte do que aquele que tomou no início do texto, botando o pau pra quebrar e se abrindo a novas oportunidades.


Bem vindo ao admirável mundo novo


Estar aberto a novas oportunidades não significa procurar desesperadamente por elas. Se você já está bem consigo mesmo, pra que entrar no desespero para encontrar alguém?

Premeditar essas coisas é sempre um fracasso. Você idealiza uma mulher perfeita, que virá recompensá-lo por todos os males que passou, por tudo aquilo que o fez sofrer e que se entregará a você da mesma forma que você se entregou, quando se fodeu. Olha a responsabilidade que colocou em suas mãos, será que ela aguentaria isso?

A resposta é não.

Você não consegue tomar conta nem do seu coração e já quer que ela lhe entregue o dela? Não é assim que funciona. Expectativas baixas, recompensas altas. Não espere demais, não procure demais. Deixe as coisas rolarem.

Uma coisa que descobri é que o inesperado é uma coisa muito foda. Quando as coisas acontecem sem que você esteja procurando por elas, parece até que elas são melhores aproveitadas. Essa história de que o beijo de outra mulher vai amargar, que você vai ficar brocha, é tudo mentira. Não amarga porra nenhuma. É só você estar pronto para isso, caso uma loiraça bata na sua porta, pedindo pra entrar.

Posso entrar, gatinho?

Não adianta procurar um novo amor sem que você se ame primeiro. Aprendi isso da maneira mais difícil. A partir do momento em que você se ama o suficiente, descobre-se um homem de riquezas e bom gosto, como diria o Mick Jagger, e aí você se vê capaz de encontrar uma princesa linda, que adora tomar uma cerveja com você.

E aí, meu amigo, quando isso acontecer, você foi a primeira pessoa que superou uma grande perda e nem viu. Então para de se lamentar e use este grande choque como impulso para viver a porra da sua vida.



Nota: Eu sei que caí no lugar comum, dizendo tudo aquilo que vocês se cansam de ouvir. Mas era tudo que  eu tinha pra dizer. Qualquer coisa que não fosse isso aí seria uma mentira, então ao invés de inovar, eu preferi dizer aquilo que todo mundo sabe, mas que ninguém faz. Outra, prometi dedicar esse texto a duas pessoas, mas termino aqui dedicando a todos os meus amigos. Vocês são fodas.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O vestido sujo de porra


Andava apressada.

Sua raiva do mundo a guiava para a lavanderia, que ficava a uns dois quilômetros de casa. Cabisbaixa, apertava contra o peito a lembrança da melhor foda que tivera até ali.

Agora, quando seu salto parecia querer perfurar a calçada, não sabia se deveria guardar essas lembranças. Já fora obrigada a guardar todos os presentes e os sonhos em relação ao futuro em cima do guarda-roupa, onde não os visse.

Mas algumas coisas não saíam de sua cabeça.

Como aqueles olhinhos, mais fundos que o normal, circundados por sobrancelhas extremamente bem desenhadas... Ou aqueles lábios finos, de uma boca bem pequena, rodeados por uma barba mal feita.
Não conseguia esquecer.

Mas agora, essa imagem tinha o perfil de um cafajeste. Um cafajeste que terminou por telefone, com a desculpa de que não era bom o suficiente para ela. Um cafajeste ainda capaz de mandar flores, como se isso melhorasse sua imagem.

Mas ela sabia que não melhorava. “Indigno filho da puta” era o que pensava. Porque só a falta de dignidade faz alguém acabar, pelo telefone, com toda uma intimidade construída, por todo o carinho e tesão compartilhados. A verdade é que ele não teria coragem para terminar pessoalmente, não olhando em seus olhos. Não mesmo.

Os homens são assim. Quando vêem que a sua individualidade está ameaçada, fogem. Têm medo de serem tocados lá no fundo e por isso rompem relacionamentos com a maior frieza e com a maior distância possível. Na cara dura.

E agora, tudo que ela queria era sentir raiva. Mas não era assim. Não iria nunca negar tudo aquilo que ele um dia representou, porque na época, era tudo que queria. Não se rebaixaria ao seu nível, de ter jogado a camiseta suja de batom no cesto de roupas sujas. Não. Não pisaria nas próprias memórias.

Perguntava-se se devia mostrar algo para ele. Como por exemplo, rasgar pétala por pétala de cada uma das rosas que recebeu e mandar de volta, com um bilhete escrito “Vai se foder”. Mas para que se preocupar com alguém que está pouco se fodendo?

Pouco se fodendo não. Agora deveria estar fodendo todas, porque pelo menos isso ele fazia bem.

Seu passo estava mais acelerado do que nunca. O vestido não ousava mexer naquelas garras que o prendiam. Seus olhos mareavam lágrimas, como de costume, lágrimas de amor. Era o seu maior dom. Chorar por amor.

Masoquista. É o que ela era. Uma masoquista retardada.

E é por isso que não conseguia parar de se lembrar de quando chegaram da boate e transaram em cima do balcão de mármore da cozinha. Não a mais longa, mas a melhor foda que já tivera. Com toda aquela paixão que só o sexo consegue expor. Que só os arranhões conseguem provar. Que só a vontade faz. E tamanha era a vontade que ela nem teve tempo para tirar seu vestido. Seu melhor vestido. Que agora estava lambuzado de porra seca. Então ela tinha que chegar o mais rápido possível na lavanderia, para lavar essa merda de vestido e seguir com sua vida.

Mas a verdade é que ela já tinha passado da lavanderia há muito tempo. Porque no fundo sabia que, assim como muitas coisas na vida, aquela porra ficaria bem guardada. Aquela porra agora era dela, assim como muitas outras que viriam.

Todos sabemos que não podemos lavar certas coisas.

Ou melhor, certas coisas não precisam ser lavadas.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Xenofobia Alternativa

Da série “Coisas que aprendi quando entrei na universidade”



Tá. É até legal dizer que você estuda num lugar onde cerca de 90% dos seus professores têm doutorado e outros 10% têm ou estão concluindo o trabalho de mestrado.

A UFG vem crescendo muito no país e a Escola de Engenharia Civil tem sido responsável por diferentes e importantes obras, como a reforma de Angra I, por exemplo.

Como diz o Lucas: O grande desafio para se entrar na faculdade.

Essa é a parte que o povo vê. A parte de que o povo sabe.

Mas no submundo, nos escombros da sala 3, as coisas não são boas. Nem fáceis.  

Uma das coisas que minha mãe me dizia era: “Filho, você vai entrar na faculdade e vai conhecer muitas pessoas diferentes, de cabeça aberta. Então, você tem que ter a cabeça aberta também, assim sua vida vai mudar e mudar pra melhor.”

Ela diz pra eu abrir minha cabeça, mas se eu a abrisse mais, ela provavelmente surtaria e acharia que eu uso drogas. De boa.

Então segui a vida, normalmente, sabendo que eu veria pessoas de todo tipo: estrangeiros, hippies, anarquistas. Enfim, todo tipo.

O primeiro grupo de pessoas que você acha que nunca vai odiar é o dos estrangeiros. Todos eles têm cara de perdidos no país e de que são super gente boas. Até porque, quando você é calouro, acha que os únicos estrangeiros são os alunos de intercâmbio.

Aí, meu amigo, você se fodeu lindamente.

Primeira aula de Geometria Analítica, na sala 3: muitos calouros reunidos, sentados, todos um perto do outro, rindo e conversando (calouro sempre anda em bando e rindo) até que o professor chega na sala. Todos se calam, naquele ato de ensinomedismo, de aluno uniforme e robótico.

Eis que surge um homem de meia idade, de pele levemente morena e de meia altura. Gordo e peruano.

Pelo fato de ele ser gordo, a primeira coisa que você pensa é que ele é gente boa, porque a maioria dos gordos é gente boa, então você acha que não vai ter problemas com ele. Até que o cara começa a falar em espanhol sobre equações impossíveis de Navier-Stokes, as quais são resolvidas por matrizes. Aí ele passa mil matrizes no quadro, põe uma letra grega (Nabla) no quadro que ninguém conhece e começa a pagar de fodão. Gordo só faz gordice.



Os professores de engenharia, aqueles que vão te ensinar algo útil para a sua vida como empregado, são gente finas. Passaram por tudo isso que você passou e, então, procuram te guiar àquilo que é necessário e útil.

Já os caras da matemática são putos com a praticidade dos engenheiros e sua falta de paciência para admirar a bonita matemática, ou até mesmo porque a Engenharia é a profissão que mais dá dinheiro, segundo um estudo da Universidade de Georgetown. É por isso que eles, os matemáticos, pagam de fodões e tão donos da verdade.

Tudo bem que o cara tem doutorado pelo IMPA (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), mostrou uma solução para uma equação impossível (através de matrizes) de Navier-Stokes. Isso não dá direito ao cara de vomitar coisas que nós não entenderíamos. Não mesmo.

Na UFG, o curso de engenharia civil não tem Álgebra Linear no primeiro semestre. O FILHO DA PUTA INSISTIU EM BASEAR TODA A GEOMETRIA ANALÍTICA EM ÁLGEBRA LINEAR. NÓS NÃO SABÍAMOS O QUE ERA ÁLGEBRA LINEAR, POR QUE NÃO ENSINAR CARTESIANO, PROFESSOR?

“Porqué cartesiano és mucho trivial”, ele deve pensar.

O cara não se recusaria a descer ao nível dos alunos, ao nível da porra do livro didático que ele adota, para que os alunos pudessem aprender. Não. Ele tem que dar de uma forma humanamente impossível de se compreender, uma forma que só complica e mostra o quanto a matemática pode ser inútil se você não a sabe toda.

Foi isso que o cara fez por um semestre. Deu coisa até de AL 2 pra gente.

Resultado: ninguém aprendeu porra nenhuma.


Graças ao Matheus, a maior parte da galera conseguiu tirar 8,0 na segunda prova, que tinha dez questões e você tinha de escolher quatro para resolver. Alguns nerds são fodas e conseguem essas coisas, tipo tirar 8,0. Eu não colei e tirei um seis e meiozinho honesto. 

Mas o próprio Matheus não sabia o que estava fazendo, apenas fazia. Bem robotizado.

A sorte é que o cara tem a fama de não reprovar ninguém. Acho que é por isso que ele continua dando aula. Os alunos não têm coragem de reclamar dele porque passar na matéria é praticamente garantido. Se você tá fodido, sua nota mínima fica na média; se você não consegue fazer a prova, ele passa um trabalho e de te dá uma notaça, que eleva sua média geral.

Assim, ninguém reclamou e deixou o cara seguir um semestre falando num portunhol horrível, olhando pros próprios peitos.


Na hora de passar, o cara para de dar aulas e passa por e-mail dois longos trabalhos sobre Cônicas e Quádricas. Ninguém sabia resolver. Todos copiaram. Pedimos prum cara formado em matemática fazer uma parte do trabalho e assim, todos passamos.

A cópia da cópia da cópia...



Aí hoje, em plena aula de cálculo, ouvi um boato que me fez querer escrever este. 


O tal peruano seria o professor de Cálculo 2. Em nível de aprendizagem, todos nós já odiamos a idéia, mesmo o livro sendo bom, no caso o do Stewart, o cara tem o dom de complicar as coisas. Mas passaríamos garantidamente para o Cálculo 3, sem sabermos nada.

Será que compensaria, então, deixar o cara vomitar na nossa cara de novo?

Acho que não. 

Se faculdade é lugar de gente de cabeça aberta , você pode lutar pra mudar a situação. Só queria ver muita gente largando o comodismo e usufruindo do direito. Depois ir na coordenadoria do curso pedindo pro cara vazar.

Só, porque apesar de o cara não ser argentino, ele é um pé no saco na vida de todo mundo.


terça-feira, 14 de junho de 2011

Só desejo a sua morte, o resto tá tranquilo...


As coisas, quando devem acontecer, simplesmente acontecem.

Eu não ia entrar na porra de um terminal hoje, eu ia virar à direita uma rua antes e pegar um ônibus diferente, que me levasse pra faculdade. Mas não, da última vez que fiz isso, cheguei atrasado e por medo de isso acontecer de novo, fui para a merda do terminal.

Aí, vem um filho da puta de não sei onde e rouba metade do meu coração (oitenta gigas, pra ser mais exato), com uma faquinha de serra ainda por cima.  Eu podia fazer disso uma história interessante, dizendo que uma gangue de ninjas de blackpower tentou me assaltar, ameaçando enfiar uma kataná na porra do meu rabo se eu não desse meu iPod pra eles. Mas, de novo, não. O que de fato aconteceu foi muito mais sem graça.

Entrei no terminal da Praça A, esperando o bendito 105 chegar. É um dos ônibus que vai mais cheio do universo e, como a situação do transporte coletivo em Goiânia é muito boa, 12354023823 pessoas vão em pé. O povo, pra entrar nesse ônibus, parece bicho. Sério. É um empurra-empurra do caralho, que se você não se apoiar em nada, é jogado longe, lá pra puta que pariu. 



Nesse momento, pelo menos dois iPods estão sendo levados.


Eu, pra não cair, então, fui me apoiar na porta, levantando os braços. Tava tocando Gimme Three Steps do Lynyrd Skynyrd e eu provavelmente deveria estar cantando And I'm a man who cares, and this might be all for you". No meio daquele ato de sarrar (onde o povo aglomerado sempre tende a se esfregar), de repente, a música parou de tocar. Quando eu olho pra baixo, vejo o cabo do meu fone, soltinho no ar. Travei meu corpo e comecei a olhar ao redor pra ver se alguém tinha um comportamento suspeito. A boiada continuou a subir a escadinha e eu, lindamente, me fodi.


Vocês podem dizer o que quiserem, como “Você nunca devia ter usado iPod num ônibus!” ou “Vai mais, otário”, que não vai mudar nada. Ando de ônibus há três anos e nunca tinha acontecido nada parecido, até hoje. O coisinha fazia parte de mim praticamente. Eram quatro malditos anos de companheirismo puro! E aí, do nada, numa manhã repentina, alguém leva meu filho de mim.

O pior é que eu não consegui ver nada. Não sei nada sobre o filho da puta. Sua fisionomia, seu gosto literário e até seu Pokémon favorito são desconhecidos, mas, na minha cabeça, já matei o safado três vezes. O cara tem que ser muito lazarento pra enfiar a mão no meu bolso e tirar meu iPod na hora de subir no ônibus. É um infeliz que vai vender um iPod Classic 4ª Geração de 80 gigas por cinquenta reais. Se ele quisesse mesmo esse dinheiro, eu preferia ter pagado.

E é por isso que eu quero que você se foda, seu filho da puta. Eu quero que você morra lentamente, com duas seringas de água fervendo pingando sobre o seu olho, porque você não entende o valor que as pessoas dão às coisas e, principalmente, à musica.

Como diria o Joe Hill, a música é a terceira estrada pra vida. Você se agarra a ela para fugir do tédio do arrastar das horas, para sentir alguma coisa, para se inflamar com todas as emoções que não experimenta na correria cotidiana de ir à escola, assistir à TV e colocar os pratos na lava-louça depois do jantar."

E agora eu vou sentir ou me agarrar a  quê, seu morroidético safado?! Que que eu vou fazer quando eu quiser ouvir Time, do Pink Floyd, antes de dormir? NADA. Eu não vou poder fazer merda alguma porque um filho da puta aproveitou do meu azar de pegar ônibus no terminal e me roubar.

Mas sua sorte vai mudar. Eu torço friamente pra que você morra, lentamente, ao som de um forró bem nojento, enquanto alguém corta seus dedos um por um. O pior, é que se depender da porra do meu iPod pra você morrer ao som de forró, você não vai morrer nunca.

Filho da puta.





:/




domingo, 12 de junho de 2011

Pra você

Eu não podia deixar este dia de hoje passar em branco, né? É por isso que este texto é dedicado a você.

Já faz um bom tempo que não te vejo e acho que o mais óbvio que tenho pra falar é que estou morto de saudades. Louco pra te ver. Relembrar os tempos em que eu ficava à sua espera, contendo toda a minha excitação ao te ver se aproximando.  Lentamente. Você sempre se aproximava lentamente, como se soubesse do meu desejo contido. Me provocando, o que sempre soube fazer.

É até engraçada toda essa paixão... Muitos amigos meus já me falaram que um dia nós nos casaríamos e, confesso que, até acreditei nisso algumas vezes. Só de lembrar das suas coxinhas, muitas vezes molhadas, me dando água na boca! Putz! Eu fico doido aqui.

E aí a saudade aumenta, aumenta a vontade de ir atrás de você. Buscar você. Só pra sentir seu gostinho mais uma vez e mais outra e mais outra, até me cansar. Ainda mais você, que sempre foi tão generosa e me saciou tantas vezes. Só tenho a agradecer, por tudo.

E é com grande aperto que eu me despeço neste texto. Mas fique sabendo que eu vou atrás de você de novo. Não sei quando, mas eu vou! Porque a cada dia que passa, maior é a minha vontade de te comer e, nas horas que a fome bate, o desespero só me faz querer você, ó gloriosa porção de frango à milanesa do 1008!













Rá! Pensou né?

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Às vezes, não consigo gostar dos meus textos. A maioria deles é tão simples que, no fundo, no fundo, eu sei que não chegam aos pés dos textos que eu costumo ler. Tem dias que eu acordo, leio e releio, mas nada de gostar. Pode ser uma espécie de vaidade literária, ou até mesmo inveja, uma pequena vontadezinha de ser o dono daqueles textos fodas que aparecem por aí.

Mas não consigo.

Eu definitivamente não sou um autor de frases ou textos de efeito. Não consigo escrever coisas universais pra dar sentido à vida dos outros.  Não penso que as coisas funcionem dessa forma... A vida é muito fodida para ser levada tão a sério, tão fodida que eu prefiro as simples coisas. Assim, fica fácil demais se alegrar, porque pelas mínimas coisas notadas, já fico feliz, ao invés de ficar me preocupando demais.

É por isso que eu não consigo escrever metáforas existenciais. Acho que a vida tem que ser vivida de dentro pra fora. É por isso que não ouso a falar de coisas grandes e pesadas, coisas que estão fora de mim, prefiro interpretar o macro a partir do microcosmo.

E isso é tão notável que, só de falar esse tanto de coisa, já tô me achando chato pra caralho e, com certeza, não vou gostar nem um pouco desse texto.

domingo, 29 de maio de 2011

Um novo filme



Não estaria tão frio assim se tivesse colocado ao menos uma calça jeans. Mas não, é tão sem noção que vestiu só um shortinho e uma camisetinha. Tava ventando muito do lado de fora, melhor entrar. Entramos. O ar condicionado do shopping faz você mais uma vez reclamar do frio. A distância de meio braço que nos separa não vai me ajudar a te aquecer. Quase suspeito de que você quer que eu te abrace, mas não ouso a oferecer assim, na frente de todo mundo.

Andamos pelo shopping, conversando. Sempre conversando, assunto é o que não falta aqui. Passamos em uma livraria e você me fala de um monte de livros que eu sei que você não dá a mínima, mas te escuto com um sorriso no rosto. Penso em falar dos meus gostos literários com você, mas meu ciúme dos mesmos me faz ficar calado. Quem sabe, quando nós formos mais íntimos...

Subimos e paramos na fila do cinema. Você brigou comigo por querer pagar os ingressos, mas ainda assim eu paguei na sua frente. Você reclama e reclama, então eu te peço pra comprar uma pipoca. Você diz que não gosta de pipoca, porque sempre fica alguma coisa no seu dente. Eu me pergunto o que você quer dizer com isso, mas aceito em não comprar pipoca também.

Tinha pouca gente na sala, sentamos no fundo. Você queria o meio, mas eu prefiro o fundo. Éramos dois errantes no meio de um cinema deserto. O filme era bom e famoso, nós dois queríamos assistir.  Eu sentei no canto esquerdo, no lugar mais escuro da sala, você do canto direito, ainda um pouco iluminada pelo telão, de forma que deu pra ver a hora que eu busquei a sua mão com a minha, no braço da poltrona. Você não tirou a sua, eu sorri no escuro, sem que você visse.

Mais uma vez você reclama do frio. Dessa vez eu não me controlo, já estou me achando frouxo demais. Pergunto se você quer que eu te abrace e você diz que não precisa. Mas com o braço que não está preso à sua mão eu te abraço e você se aninha no meu peito. Não tive tempo pra ver se você estava sorrindo, fui pego numa armadilha. Sem que visse, eu já estava cheirando seus cabelos. Suspirando, baixinho. Quis beijar sua cabeça, depois descer pra sua bochecha até que, sem ver, estaríamos nos beijando. Mas não o fiz. Fiquei respirando você, lentamente, extasiado.

Longos minutos se passaram e você não se mexeu. Disse que estava quentinha agora, então quis ficar quietinha. Apertei a sua mão. Você olhou pra mim. Fitou meus olhos no escuro, num lugar em que só você saberia onde eles estavam. Pena que não conseguiu ver quando eu os fechei e me aproximei de você, beijando a sua boquinha. Não num beijo desesperado, ardente e caloroso. Mas um beijo calmo, simples. Beijei seus lábios como se quisesse sentir seu gosto, lentamente. Senti sua nuca arrepiando no meu braço e isso foi um sinal pra que eu te puxasse pra mim. Você meteu a sua língua na minha e, sem que eu visse, um novo filme tinha acabado de começar.

Canalha que sou

E finalmente, após longas delongas, eu venho aqui para contradizer tudo aquilo que já foi dito: eu não presto. Não presto mesmo, não tenho nenhum pudor. Não valho nada.

Como diria o Carpinejar, o homem que nunca ouviu um “Canalha!” ainda tem de aprender muito. E ainda uso das palavras do ilustríssimo citado anteriormente: o canalha é verdadeiro.  A transparência nos dias de hoje é algo quase utópico e é por isso que o canalha se destaca, porque ele assume os defeitos que tem, aqueles que todos enxergam.

É, eu também pensei por muito tempo que fosse uma mulher, mas não, não a sou. Na verdade eu tô cansado de dizer o que eu sou, digam-me vocês. Sou um cara que acredita demais nas pessoas? Que acredita demais no amor? Ou, se vocês ainda insistirem “Não, você é uma mulher por dentro”. Nada disso me define. Até porque se eu soubesse o que de fato o faz, não estaria escrevendo merda alguma. Não haveria sentido.

A verdade é que nós todos somos ridículos e essa é a nossa melhor definição.  Eu também sempre quis criar frases de efeito. Nada de claricismos ou pessoísmos. Sempre quis criar frases descontraídas, mas de efeito, que pudessem definir os outros, assim como eu encontro um bocado de coisas que me definem por aí.

E, hoje, em pleno domingão e fim de maio, ridículo que sou, usarei a definição do Carpinejar. A que mais me agrada é a de um “canalha!”, com exclamação. Não confunda com cafajeste ou filho da puta, por favor.

O canalha não presta.  Todos sentem raiva de um. Simplesmente porque ele vive a vida que tem. O canalha não tem medo de ser ele mesmo, porque reconhece as suas limitações e suas qualidades, então, ele não liga para o que os outros pensam. Nunca perde seu espírito de criança, fazendo dos infernos, uma simples molecagem. O canalha tem um sorriso malandro, guardado para pouquíssimas pessoas. Um sorriso que destrói qualquer muralha, que fragiliza qualquer um. Isso faz com que as pessoas se entreguem e nesse “entregar-se”, elas sentem raiva, porque não confiam em si mesmas, ao ponto de se deixarem nas mãos de outro. O canalha é um ignorante. Ele não tem medo de amar, de sangrar. Atropela qualquer sentimento.

Mas a raiva sentida é uma raiva gostosa, uma raiva de desejo, de quero mais. Nada de “você não vale nada, mas eu gosto de você”. Quem tem um canalha em casa, sabe que ele presta para muitas coisas. É uma pena que a raiva não é o único sentimento que ele cativa nos outros.

Cada canalha é odiado. As pessoas sentem muito medo de enfrentar as coisas e são extremamente egoístas. Elas pensam que se amam acima de todas as coisas e, por isso, qualquer um que tente amá-las mais do que elas próprias é visto como um corpo estranho, que precisa ser eliminado. Esse é o maior talento do canalha, ele ama mais os outros do que eles próprios conseguem se amar. E é aí que entra o seu maior rival, o ciúme.

Ou pior, o autociúme. As pessoas “canalhizadas” se sentem na obrigação de se amar mais, por vaidade. Onde já se viu, alguém me amar mais do que eu mesmo? E é aí que o canalha se dá mal, porque quando as pessoas se amam o suficiente, elas se acham independentes demais e essa independência causa solidão. E elas, como retardadas que são, vão procurar por aí, outro infeliz para que sejam desafiadas a se amar mais, porque é isso que um canalha faz. Faz as pessoas se amarem mais. Muito mais.

Um canalha vive e é chamado de bandido, por ferir o egoísmo das pessoas. Eu, como canalha que sou, não tenho pudor algum, porque, para morrer de amor, tive que não morrer (valeu Tati Bernardi pela excelente frase) e assim, continuar vivendo.

Canalha!

domingo, 15 de maio de 2011

Medo de atravessar a rua, Rock in Rio e Atlético campeão

Tenho 18 anos de idade, barba na cara desde os 14, um metro e noventa e até hoje minha mãe se preocupa se eu atravesso a rua direito. Eu não sei explicar o jeito dela, acho que se resume muito à inocência. Tadinha.


Ela é daquelas que quando sonha com algo muito ruim, acorda chorando, desesperada, com medo de que aquilo venha realmente acontecer. Ainda mais porque é espírita, o que a faz acreditar muito em coisas místicas, algo do tipo necromancia, sei lá.


O que realmente fode tudo é que eu sou o caçula. Filho do segundo ‘casamento’ e do eterno amor da minha mãe, ela acha que eu pra sempre serei o seu bebê. Bebezinho de quase dois metros, ok... A diferença de idade entre mim e meus irmãos é muito alta e, por muito tempo, eu realmente fui um bebê. Até hoje eu ainda finjo ser algumas vezes, isso a deixa extremamente feliz.


Porque ela é muito carente, sério. Tem dia que pede pra que eu durma na cama dela, me pede pra não sair porque tá com um pressentimento ruim e me obriga a ver filmes com ela (Percy Jackson que o diga...). E sei lá, é o mínimo que eu posso fazer, afinal, ela vive quase que inteiramente pros filhos. E é uma puta mãe coruja, daquelas até que ficam com raiva das ex-namoradas dos filhos!


O foda é que ela não tem um retorno tão grande. Meus irmãos não são os melhores filhos do mundo, o que acaba deixando ela meio magoada e decepcionada. E isso fode ainda mais a minha situação, porque aí eu tenho que valer por quatro, ser um bom filho multiplicado por quatro, e coisas afins...


Isso às vezes me custa caro... Por exemplo, existem locais em que eu sou proibido de ir, tipo o Rio de Janeiro. Dizendo ela, não criou filho pra morrer de bala perdida, então, Rock in Rio nem pensar e lá se foi pro espaço outra oportunidade de ver Metallica e Red Hot Chilli Peppers. Nessas horas, ser um bom filho me deixa puto.


ficar em casa...

 
Meus amigos muitas vezes não acreditam que isso é verdade. Sério. Tipo hoje, me chamaram pra caralho pra ir ao jogo do Goiás, finalíssima do campeonato goiano, eu fiquei animado, coisa e tal. Vou avisar ela que vou, ela só me solta um “Não vai não, tá morrendo muita gente nesses jogos e não te criei até aqui pra morrer por futebol...”. Então tá, né, eu não fui, meus amigos ficaram putos comigo e o Goiás perdeu! Delícia!


Mas sei lá, eu não posso reclamar de nada não. Minha mãe é perfeitinha da maneira que é. Cozinha bem pra caralho, cuida do neto, adora arrumar a casa e por isso faz tanta questão que a gente fique aqui. Trabalha a semana inteira e seu maior gostinho é ver a gente comer pão de queijo no domingo (aqui quem come pouco, faz desfeita). Ela é simplinha, não esquenta com muita coisa, faz as coisas da forma mais bonitinha, pensando sempre no melhor, muito inocente.
               
Acho que é por isso que eu sou assim também, tão caseiro e, às vezes, tão inocente. Gosto de sair, gosto de strondar, mas não resisto a ficar em casa em família, com alguém, rindo e contando causos. Não tive coragem de abandonar essa casa não. Passei num bocado de vestibular, mas não tive nem o pensamento de sair de Goiânia.
              
Porra! E largar tudo isso aqui? Deixar minha mãe sozinha no meio desse mato? Não, ela é daquelas que faz a gente querer capinar um lote só pra comer sua jantinha depois. Quando eu tinha sete anos, minha mãe virou também o meu pai e acho que pessoas que valem por dois, hoje em dia, são raras demais. Por isso, quando a gente encontra uma, a gente tem de grudar e não soltar mais!

domingo, 1 de maio de 2011

Covinhas

O próprio titulo já diz a imensidão do assunto de hoje: covinhas! Nada de pegar traveco ou de limpar nojeiras, falaremos de algo muito melhor, que desperta o olhar, e às vezes não só, de milhares de homens por aí.

Não, não irei falar que covinhas são fofinhas ou lindinhas e que dão charme àquela pessoa. Não, apesar de também achar isso, quem fala uma coisa dessas é uma mulher.
O foco aqui são as covinhas nas costas, ou, se preferir, na região lombar. Sério, todo homem fica louco ao ver uma bela moça de costas para si, com aqueles dois botõezinhos piscando e dizendo "Apóie seus dedos aqui!". Dá uma vontade tremenda de ir lá e apertar mesmo, como se elas fossem dois olhos hipnotizantes que te puxam pra dentro da maré. Isso sim seriam olhos de ressaca, querido Machado.


Covinhas ou, como também sao chamadas, suporte para dedos
Não sei se vocês sabem, mas tais covinhas estão no topo das listas de itens do que mais atrai um homem. Mas para ninguém falar "Ai, Uiatan, como você é machista!", eu digo que não só os homens são apreciadores dessas belezas, viu. Muitas mulheres também são loucas para depositar seus dedos nessas coisinhas.

O legal é que elas possuem uma grande versatilidade de uso. Se o casal está de frente, um pode colocar os indicadores, um em cada covinha, e puxar o parceiro para mais próximo, dando todo aquele tchã de me "pega, me bate, me joga na parede e me chama de lagartixa!". Se um está de costas para o outro, o parceiro que está atrás pode colocar seus polegares ali, colocando os outros dedos na cintura e beijando o pescoço. Fica a dica, as coisas ficarão calientes se isso acontecer, tem gente que é fácil fácil com uma baforada na nuca, depois dessa apertada nas covas, então, nem se fala. Não que eu saiba do que estou falando...


Mas ainda fica no ar uma questão. Por que diabos eu resolvi falar de covinhas assim, do nada? Até essa semana, uma lenda urbana me passava despercebida. Ouvi dizer que quem tem essas benditas nas costas é bom de cama. Não que eu não soubesse disso, é claro, eu só nunca havia me atentado para a coincidência, afinal, não é só por que eu tenho covinhas nas costas que eu sou bom de cama, como eu disse antes, é só uma coincidência...


Dessa forma, eu fiquei muito curioso pra saber se é verdade. Mas como eu tenho uma vida sexual extremamente ativa, com mais de 18236322363276323726326323232532 parceiras sexuais por mês, a conta de telefone sairia muito cara. Então, tive a brilhante ideia de postar isso na internet, para que vocês me respondam se é verdade ou não. Fiquem à vontade, não se reprimam!

P.S.: Eu queria que isso aparecesse no Mythbusters... Se desse verdadeiro, eu só procuraria mulheres com covinhas, imaginem, além de sexy, seríamos deuses na cama!

domingo, 24 de abril de 2011

A Paixão de Uiatan

Nota: Não, este texto não é romântico. Para os paparazzi de plantão, esse texto não é direcionado e nem feito pelo meu subconsciente. Se é isso que vocês querem, procurem em outro blog.

Bem, aos religiosos fervorosos, minhas singelas desculpas pelo uso da palavra “paixão”, pela blasfêmia ou o caralho a quatro, esse título remete aos meus últimos quatro dias, véspera de páscoa.

Sofrimento. Desilusão. Vertigem. Náuseas. Angústia. Sim, fui bastante atormentado nesses dias por essas coisas, dentre outras mais.

Mas, antes de tudo, quem é Uiatan? Eu duvido que pessoas que não me conheçam venham ler esta espelunca, mas para os felizardos, sejam bem vindos! Meu nome é Uiatan, uma variação de Uiatã, que significa felicidade em tupi-guarani. É dito da mesma forma que se lê: UI-A-TAN. Simples. São muitas vogais reunidas, que formam um som único e que me impossibilita de ter qualquer apelido. Mas isso foi motivo de outro texto, e este sim foi direcionado. Deixemos de lado.

Esse feriado combinou muito com meu nome, apesar do que foi dito antes. O sofrimento não foi meu, o que me deixa mais feliz, mas não tão feliz quanto aos risos que eu pude dar da situação.

Eu não sei por que, mas meus amigos insistem em acreditar que sou empregada deles. Ou melhor, que sou a vadia de cada um, o que me deixou desiludido. Farreiam pra caralho, fazem o que querem e simplesmente jogam a bomba em cima de mim, pra que eu possa limpar a merda que eles fazem.

Não que eu não farreie também, até porque já dei trabalho algumas vezes duas, mas eles simplesmente não lembram que misturar ou beber demais, causa vômitos e que eles vão estar bêbados demais pra limparem.

Realmente não foi a primeira vez. Em outras ocasiões, já havia chamado amigos meus para beberem aqui em casa. Eles se julgavam fortes, destemidos e acabaram deitados, abraçando um vaso sanitário por algumas latas de cerveja. Diziam que a culpa era da latinha, mas não sei qual a causa misteriosa do alumínio que leva ao vômito.

Dessa vez foi um pouco diferente. Não aconteceu aqui em casa e sim na casa de um amigo meu irmão. A galera enfiou o pé na jaca com gosto. Eu tenho que confessar, que depois de muito tempo sem beber, eu também enfiei. Tenho que agradecer à minha ex-namorada, que me ensinou a “parar de beber”, o que foi bastante aperfeiçoado para “parar na hora certa” ou “nem começar”.

Comecei na coca-cola. Desceram uma garrafa de tequila. Hora de começar a beber. O filho da puta já estava bebendo desde a hora que acordou, seu café da manhã foi uma lata de Antárctica. Ele devia estar pensando que álcool é água e que misturar não dá nada. Eu tomei chopp pra caralho e 3 doses de tequila. O infeliz tomou chopp pra caralho, 5 doses de tequila e uma de pinga. O QUE ESSE INFELIZ TEM NA CABEÇA EU NÃO SEI.

O resultado disso tudo, foi muito engraçado. Tava todo mundo muito animado, rindo pra caramba, roubando pra caralho no truco. Outros tavam inventando histórias, e esse veado, em especial, narrou até um jogo de vôlei que ele jogou com o Serginho e o Ricardinho da seleção. Faltou falar só do André Heller...

Sei que tudo tava muito mais lindo do que deveria estar. Eu parei de beber, entrei na água e fiquei tranquilo. Os que não fizeram isso, se foderam. Ou me foderam, de um jeito um tanto quanto eloquente.

Ali por volta da meia-noite, eu, meu amigo e o pai dele decidimos ir embora. Os três estavam um tanto quanto alterados, com uma garrafa de pinga no interior do veículo, a ponto de nos fodermos lindamente se caíssemos numa blitz. Não caímos, ufa!

Cara, quando chegamos na casa do infeliz, este, meu amigo, saiu pela tangente do carro, direto pro mato. Eu já sabia o que iria acontecer, entrei pro quarto, guardei minhas coisas e fui ver se ele tava bem.
‘Você vomitou muito?’, perguntei.
‘Sim’.
‘Tá de boa agora?’
‘Tô.’
‘Certeza?’
‘Certeza. ’

De boa, então. Ele falou que tava bem, então ele tava, né. Aí o infeliz decide ir pro quarto, tirar a porra da roupa e ficar só de cueca na cama. Nem pensou em tomar banho, porco. Chego lá, tá aquele grande pedaço de mau caminho, com a coberta na cara. Pergunto se ele vai tomar banho, ele disse ‘Pra quê?’. Então tá, né.
Decido pegar minha toalha, tomar meu banho e escovar os dentes. Quando dou as costas para a desgraça deitada, escuto uma música para os meus ouvidos. Regurgitação. Adooooooooooro! Ainda de costas, ouço o cara derramar seu mel sobre o chão. Aí de boa, os pais dele iriam comer o seu cu se soubessem que ele tava passando mal. Eu, então, humildemente fui procurar um pano de chão e algo pra limpar.

É claro que as náuseas e a vertigem foram dele. Pra mim sobrou a reflexão. Amizade é um trem forte demais, bicho. Amigo que é amigo mete a mão no vômito do outro, pra limpar o chão. Sem medo, sem nojo. Faz o que é necessário pra limpar a barra do cara. Ou o chão. O foda é que eu limpei muito.

Outra reflexão foi a de que eu sou a pessoa mais linda que eu conheço, de verdade. Nunca limparam meu vômito, eu já limpei vômito dos outros três vezes. Sem chorar, sem brigar e sem achar ruim. Fiz meu papel de faxineira, joguei álcool no chão e um pouquinho de veja pra ele não ficar enjoado com o cheiro. Que outro amigo se preocuparia tanto assim, cara? É por isso que eu repito, eu sou a pessoa mais linda que eu conheço. Em outro texto já disse que eu era pra casar, agora eu sou pra casar, pra amigar e pra tudo que possa ser feito! Se eu limpei o vômito, imagina o que mais eu faço, hein?

Ele não tava em consciência de fazer merda alguma, eu só limpava e esperava ele vomitar mais. A angústia tá aí. Eu tava dormindo no chão, do lado da cama do desgraçado, imaginem o medo que eu tive de ser vomitado. Eu já tinha uma frase pronta pra essa situação, caso acontecesse: “PORRA, CARA, ME BEIJA PRIMEIRO, CARALHO!”. Graças ao que há de mais puro no mundo, não foi necessário usá-la. Eu tinha colocado uma bacia enorme do lado dele pra ele vomitar e ele ainda conseguiu errar, mas me acertar não. Até porque eu tava num reflexo filho da puta, ele respirava um pouco mais intensamente na cama e eu já tava em pé, do lado da porta, procurando o pano pra limpar.

A última vez em que ele vomitou foi às 2h30 da manhã. Eu acordei, limpei, joguei álcool, deixei o quarto esterilizado. Lindo. Fui dormir na sala porque o cheiro de álcool tava forte. Vejam bem o quanto eu sou o cara perfeito, eu ainda programei meu celular pra despertar 3h, pra ir ver se ele tava bem. E fui.

No meio das limpadas, eu perguntei pra ele: “Bicho, você sabe que dia você vai achar uma mulher que vai cuidar de você do jeito que eu tô cuidando, né?”. Ele respondeu, não sei como, um singelo “Nunca”.

Taí, NUNCA MESMO. ELE NUNCA VAI ACHAR NENHUMA MULHER QUE LIMPE O VÔMITO DELE! Enquanto algumas mulheres vão achar UM ou DOIS homens que limpem vômitos, porque mais de dois não existe no mundo. Certeza.

Isso me deixa mais desiludido ainda. As mulheres tão pouco se fodendo se você limpa vômito ou não. Isso é tão triste. É uma qualidade tão especial e única, que elas simplesmente não se dão conta de que isso torna qualquer homem único também. Já me disseram muitas vezes que eu era único, mas acho que se esqueceram disso ao longo dos dias. São nessas horas que eu apareço com um texto imenso desses para provar que eu sou difeeeeeerente MEEEEEEEEEEEEEESMO! Sou o amigo perfeito, o homem perfeito, MOÇAS BONITAS, ME PROCUREM, ESTOU DISPONÍVEL!

Mas acho que nunca vou achar uma mulher que dê valor desse tanto, porque só um homem consegue reconhecer que meter a mão no vômito é uma qualidade inestimável. Eu acho que eu tinha era que virar gay, então, ou pegar um traveco, porque homem é companheiro! Uns, como eu, são até mais que os demais, mas são extremamente raros. Por isso, DÊEM VALOR PARA MOTIVÁ-LOS A CONTINUAREM ASSIM!

Termino o texto então parafraseando o Fabiano Cambota:

‘Eu quero alguém assim como eu,
E que me dê o que você não me deu,
Não quero mais Julieta,
A moda agora é um tipo de Romeu... (tipo eu...)
Vou namorar um traveco
Agora a fila andou
Eu até ganho um amigo
Joga bola comigo
E ainda pega no gol
Pode falar, não me importo
Com o que venha depois
Se eu ligo meu Playstation
 Ele me pede com jeito pra ser o player 2...’
P.S. : Se alguma mulher atende às qualidades dessa música(não precisa ser todas...), seja gente boa e saiba conversar, saiba que você também é única!